quarta-feira, 30 de novembro de 2016

DEZEMBRO/2016: UM FREGUEZ FALLAZ QUE FAZ JUS AO BIS


No mez passado abbordei o caso dos graphemas "AU" e "ÁO" e, para fazer
um parallelo, mencionei minha coherencia com o principio da minima
accentuação. Citei LUIZ e PORTUGUEZ como exemplos do quanto a
orthographia preservacionista prescinde do accento agudo. Tambem alludi
ao facto de que os leitores deste bloguinho são attentos observadores,
promptos para me pegar no pullo, ou pelo menos para tentar pegar-me.


Agora é o leitor Oswaldo quem me interpella:


- Você defende as terminações com a lettra "Z" para não ter de escrever
LUIZ como LUÍS, mas escreve ASSIS e PARIS. Como explica mais essa
incoherencia?


Explico-a porque a incoherencia não é minha. A orthographia não é uma
sciencia exacta, cabendo excepções a quaesquer regras, ou antes,
convenções que recommendo sem tentar impor. ASSIS e PARIS são formas que
difficilmente alguem achará como ASSIZ e PARIZ, embora o proprio Julio
Nogueira admitta PARIZ. Vejamos o que elle diz em seu MANUAL
ORTHOGRAPHICO BRAZILEIRO e depois accrescentarei meus commentarios.


{A constricta "ZÊ" representa-se por "Z": [...] como lettra final de
grande numero de palavras agudas e nos seus pluraes e derivados: GAZ,
PAZ, RAPAZ, TIMIDEZ, FRANCEZ, PORTUGUEZ, VEZ, AUDAZ, LIZ, RAIZ, NARIZ,
PAIZ, JUIZ, PARIZ, NOZ, VOZ, FEROZ, ATROZ, LUZ, CRUZ. Esta indicação de
cunho practico appoia-se no facto de ser o "Z", em innumeros casos, a
transcripção de um "C" latino. Os derivados de formação popular manteem
a mesma graphia: RAPAZIADA, FRANCEZMENTE, ENRAIZAR, JUIZADO, VOZEIO,
VOZEAR, FEROZMENTE, LUZEIRO, CRUZAR, CRUZEIRO, etc.}


Obviamente, Nogueira faz suas excepções, como JUS, JESUS, MOYSÉS,
CAIPHÁS, que eu também levo em compta, mas o facto é que a etymologia e
a tradição escripta não são sufficientes para estabelescer um paradigma
para todos os casos. Graphamos SATANAZ mas temos escrupulo de graphar
CAIPHAZ ou JESUZ. Por que? A resposta talvez esteja justamente na praxe
consuetudinaria. Basta consultar as fontes lexicographicas. O
diccionario Lello consigna SATANAZ com "Z" ao lado de CAIPHÁS com "S",
bem como ASSIS e PARIS. O de Aulete, como não é encyclopedico, só
registra adjectivos de nomes proprios, mas não verbeta PARISIENSE e em
FRANCISCANO não menciona "de Assis"; comtudo, no verbete JACOBINO
menciona PARIS com "S". Outrosim, nosso Assis mais famoso, o Machado,
não usava "Z", emquanto Delphino, que era Luiz, não usava "S". Está ahi
a differença da praxe, diaphana e crystallina.


Em summa, ninguem precisa ter dor na consciencia si se vê às voltas com
taes incoherencias, pois ellas fazem parte do complexo universo lexico
do idioma, para o qual nenhuma academia tem poderes de legislar em
character obrigatorio.


ASSIS vem do italiano ASSISI e PARIS não do grego mythologico PARIS (que
é paroxytono e accentuado como PÁRIS pela graphia phonetica), mas da
tribu celta PARISII. Em todo caso, paresce claro que os nomes proprios
teem sua peculiar morphologia e nem sempre podem ser enquadrados pelos
mesmos criterios que regem os substantivos communs do typo agudamente
terminado em "Z" de modo a dispensar o accento. Mesmo entre estes ha
necessidade de distinguir NOZ de NÓS (pronome e plural de NÓ), VOZ de
VÓS (pronome), VEZ de VÊS (verbo VER) ou PAZ de PÁS (plural de PÁ),
evidenciando que ha logar para as mais diversas situações accentuadas,
impossiveis de evitar.


Caso o leitor Oswaldo não se satisfaça com taes explicações, não vou
ficar indignado quando elle quizer graphar ASSIZ ou PARIZ, desde que
elle siga o mesmo criterio em JESUZ e MOYSEZ, para manter uma coherencia
que, esta sim, será delle e de ninguem mais. Rapaz audaz, esse que quiz
ser meu juiz, hem?


Aos interessados deixo o link para um menu na nuvem donde podem baixar
os archivos do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO e de outras obras pertinentes.


https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0


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