sábado, 11 de abril de 2015

ABRIL/2015: SUPPORTE TECHNICO


O leitor Adalberto me questiona: "Por que você escreve ENNOBRESCER e
ENNERVAR com "N" duplo e ENAMORAR, ENOJAR e ENUMERAR com "N" simples?
Não seria o mesmo caso de assimilação que resulta em geminação?"


Minha resposta: São casos differentes. Nem se tracta de assimilação,
pois o prefixo é "EN" e não "EM". Portanto, em EMMAGRESCER ha
assimilação de EN+M, mas em ENNOBRESCER ha juxtaposição de EN+N. Ja em
ENAMORAR a juxtaposição é de EN+AMOR+AR; em ENOJAR occorre uma
corruptela do latim INODIARE; em ENUMERAR occorre fusão de EX+NUMERARE,
resultando no desapparescimento do "X". No caso de ENOJAR pode-se
admittir a forma ENNOJAR por analogia com ENFASTIAR ou ENVERGONHAR, em
detrimento da rigorosa etymologia e em favor da coherencia, a criterio
do escriptor.


O leitor Sergio indaga: "Notei que o Aulete registrava os verbos CANÇAR
e SOCEGAR com "C", alem do substantivo PECEGO. Você não segue essa
tendencia. Por que?"


Minha resposta: Nesses casos considero melhor a graphia actual, primeiro
porque evita uma cedilha para CANSAÇO, em vez de CANÇAÇO e, segundo,
porque acho sempre preferivel uma consoante geminada, como em SOSSEGO e
PESSEGO. Em terceiro logar, porque, ironicamente, a graphia actual
accaba sendo mais etymologica, pois PESSEGO vem de PERSICUM, SOSSEGAR de
SESSICARE e CANSAR de CAMPSARE, que, aliaz, daria CAMPSAR e CAMPSAÇO si
fossemos estrictamente rigorosos. Segundo o Lello, o verbo latino seria
outro, QUASSARE, mas isso não invalidaria o "S". Por isso mesmo prefiro
as formas ASSUCAR e SOSSOBRAR, que na graphia reformada ficaram "açúcar"
e "soçobrar". Tudo é questão de conciliar um criterio coherente com uma
tradição menos accentuada e mais generosa na quantidade de consoantes.


O leitor Flavio indaga: "Ouvi dizer que Fernando Pessoa era adepto da
orthographia antiga e escrevia ANCIA, ANCIOSO, em vez de ANSIA, ANSIOSO,
como você registra. Qual a forma preferivel e a razão?"


Minha resposta: Na verdade, nem ANCIA, nem ANSIA seria mais correcto, e
sim ANXIA, como no latim. Accabam sendo acceitaveis as trez formas, mas,
entre "C" e "S", prefiro com "S". Quanto ao Pessoa, não apenas elle, mas
outros grandes auctores novecentistas reagiram contra o reformismo
phonetico. Só os nascidos depois da decada de 1940 acceitaram
passivamente o phoneticismo, com algumas excepções, não é mesmo?


O leitor Desiderio informa: "Venho communicar-lhe accerca de uma pagina
no facebook, a qual tambem me inspirou a adoptar uma graphia mais
correcta, tracta-se de 'Orthographia Universal da Lingua Portugueza',
creada por Edward Luiz Ayres d'Abreu. Segue-se abbaixo o ligame para a
pagina."


https://www.facebook.com/orthographiaportugueza


Minha observação: Tanto o termo "ligame" para link, como "ratto" para
mouse ou "pastilha elastica" para chiclette, são opcionaes, a criterio
do escriptor, ja que a graphia etymologica não impõe a vernaculização de
extrangeirismos nem seu apportuguezamento, como em "deletar" ou
"linkar". E viva a liberdade!


O leitor Eduardo commenta: "Glauco, escutei no radio o professor Sergio
Nogueira defendendo a graphia de MUSSARELLA com "Ç", alem de outras
palavras, como ASSUCAR e PASSOCA. Que é que você diria a elle?"


Minha resposta: Até que o Sergio não é dos mais radicaes phoneticistas,
pois ja o ouvi dizendo que, em vez de propor reformas, seria melhor que
os academicos deixassem a orthographia como estava. Pena que alguem como
elle não disse isso em 1943, né? Agora só lhe resta recommendar a
ridicula cedilha, admittindo, meio sem graça, que todo mundo
apportugueza MOZZARELLA como MUSSARELLA, ainda que o duplo "L" fique por
conta dos etymologistas... Uma pena. Sergio sabe tractar do assumpto com
bom humor, uma virtude incommum entre os grammaticos. Bem que elle
poderia ser um dos nossos, como o outro Nogueira, o Julio...


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copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.


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