sábado, 28 de novembro de 2015

DEZEMBRO/2015: INTERLIGAÇÕES INTERNAUTICAS

Instado por um leitor deste blog de notas, respondo sobre uma
interessante particularidade na assimilação duma consoante final de
prefixo pela inicial do morphema pospositivo. Tracta-se do prefixo INTER
deante de palavra iniciada por "L". O leitor me questiona si, tal como
occorre com INTELLIGIR (INTER+LIGIR), não caberia o mesmo em relação a
INTERLIGAR ou INTERLOCUTOR. De facto, coherentemente com COLLIGIR e
COLLIGAR (CON+L), haveria logica nessa assimilação que, entretanto, só
occorre nos cognatos de INTELLIGIR, como INTELLIGENCIA ou INTELLECTO.
Não convem generalizar aquillo que no proprio latim paresce ser
excepção, ja que, para INTERLOCUTOR, a matriz latina seria INTERLOCUTUS,
de INTERLOQUOR. Portanto, acho "forçação de barra" escrevermos
INTELLIGAÇÃO ou INTELLOCUÇÃO, embora sejam correctas as formas
COLLIGAÇÃO e COLLOQUIO.

Outro leitor colloca uma questão absolutamente nova: sahiu nos States a
designação scientifica para enquadrar tanta gente dependente do cellular
a poncto de não conseguirem ficar sem olhar para elle siquer por alguns
minutos. Essa especie de "syndrome de abstinencia" ou de vicio
technologico ja tem nome: NOMOPHOBIA. Succede que, pelas praxes da
composição classica, o correcto é cunhar termos scientificos só com
elementos gregos. Assim, para compormos um neologismo allusivo a alguma
phobia que se queira baptizar, teriamos que achar o equivalente grego
para aquillo de que temos medo ou adversão. No caso, o que ja existe no
grego é NOMO, porem com dois significados distinctos. Vejam como esse
graphema apparesce no meu DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO:

+NOMO+ [+NOMIA+] (1) "lei", "territorio" em NOMOGRAPHIA, AUTONOMIA
+NOMO+ (2) "pastagem" em NOMOPHYTA

Ora, pergunta meu leitor, que é que isso tem a ver com aquella compulsão
dos portadores dos taes apparelhinhos de telephonia movel, que ja
viraram minicomputadores portateis? O problema é que os americanos teem
mania de truncar quaesquer palavras, na ansia de abbreviar termos muito
correntes ou de uso commercial, tal como fizeram com HI-FI (HIGH
FIDELITY) ou WI-FI (WIRELESS FIDELITY), pouco se importando si as
palavras são cortadas sem deixar syllabas ou mesmo phonemas inteiros.
Dahi que, para a expressão "NO MOBILE" (privação do cellular), não
hesitaram e crearam "NO-MO", donde NOMOPHOBIA. Uma barbaridade, em
termos de respeito à etymologia, mas que paresce natural para os
psychologos que diagnosticam o tal disturbio de comportamento em cada
vez mais pacientes. Fazer o que? A mim cumpre registrar o neologismo e
convidar nossos companheiros de etymologismo à reflexão. E ahi,
twitteiros? Acham vocês que são todos nomophobicos? Ou conseguem deixar
de lado o tal equipamento vital para uma virtual pausa meditativa?
Emquanto vocês pensam, aqui deixo o link para meu menu na nuvem, onde
podem achar o DICCIONARIO e outras obras de eventual interesse.

https://www.dropbox.com/sh/m8jq3615v16g2zt/AACEKn9GzBQUpQmyutQU6Bnha?dl=0

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segunda-feira, 2 de novembro de 2015

NOVEMBRO/2015: INCOMPTAVEIS INCOHERENCIAS


Ha pouco tive occasião de explicar, neste blog de notas, como o verbo
latino COMPUTARE deu CONTAR em portuguez, passando pela forma
hypothetica COMPTAR, e como os francezes resolveram a questão,
reservando COMPTAR (COMPTER) para fazer COMPTAS e deixando CONTAR
(CONTER) para narrar CONTOS. Nosso idioma perdeu a classica
opportunidade de adoptar a subtil differenciação, por isso cahimos, pelo
systema mixto que precedeu a reforma phonetica da decada de 1940, no
actual estado de homographia simplista que, em vez de simplificar,
confundiu e... complicou.

Ja que frequentemente alludimos aos francezes, importa salientar que
Portugal resistiu mais renhidamente à simplificação phoneticista
justamente por causa da proximidade e da influencia da cultura
francophona e gallicista, mas accabou capitulando, como nós, à maldicta
vizinhança hispanica, que tanto nos prejudica a comprehensão dos
phenomenos etymologicos. Nada tenho contra a cultura hispanoamericana em
si, com sua rica e diversificada litteratura, mas sim contra o principio
linguistico que rege aquella orthographia, fique claro. O mesmo vale
para a lingua italiana, descendente que sou do paiz da bota... Mas vamos
aos factos.

Hoje minha reflexão é sobre dois termos em que temos equivalencia
franceza e sobre as consequencias logicas desse parallelismo. Tracta-se
das palavras BOTA e COTTA. Ambas teem forma commum no francez: BOTTE e
COTTE. Por que, então, a digraphia do portuguez?

No sentido do revestimento de malha usado pelos cavalleiros medievaes
nas armaduras, COTTA bem differe de COTA (parcella), que aliaz devia ser
graphada QUOTA, como QUOTAR, QUOTEJAR, QUOTIDIANO ou QUATTORZE. A
questão, nesse caso, seria esta: si COTTA era graphia correntemente
practicada, por que não admittirmos BOTTA, BOTTINA, inclusive para
distincção entre as flexões do verbo BOTAR, que vem do antigo francez
BOTER, que por sua vez se distingue de BOTTE?

Isso nos leva a outra questão, egualmente pertinente. A desinencia
"OTTE", como "ETTE", quando apportuguezada, costuma resultar num simples
"OTA" ou "ETA", caso de MARMOTTE (MARMOTA), GAVOTTE (GAVOTA), CALOTTE
(CALOTA) e CHARLOTTE (CARLOTA), ou SILHOUETTE (SILHUETA), ROULETTE
(ROLETA), GAZETTE (GAZETA) e JULIETTE (JULIETA), e o "T" geminado só se
mantem quando a palavra conserva a forma original, como em PLAQUETTE,
MANCHETTE ou CHARRETTE. Assim tambem occorre comparativamente a formas
italianas equivalentes, como GAZZETTA ou GIULIETTA. Seria o caso de
radicalizarmos, nós, etymologistas, na insistencia de usar graphemas
como BOTTA, MARMOTTA, GAZETTA ou JULIETTA?

Minha opinião tende a acceitar uma relativa simplificação, que se
justifica por não ser resultante do arbitrio immediatista de meia duzia
de academicos e sim da tradição escripta, mas sempre admittindo a
adopção do duplo "T" quando implicar evidente utilidade diacritica, como
no caso de COTTA e QUOTA ou de BOTTA e BOTAR, coherentemente com COMPTAR
e CONTAR.

Outra reflexão sobre as inevitaveis incoherencias com as quaes
convivemos (mesmo si não tivessemos os maldictos phoneticistas para
attrapalhar) é sobre trez dos nomes proprios mais communs da lingua
portugueza: José, João e Joaquim. Si adoptamos JACOB, DAVID ou NAZARETH
com valor phonetico de "Jacó", "Davi" e "Nazaré", e si acceitamos que o
"PH" não soa em PHTHISICA ou DIPHTHONGO, por que não adoptarmos JOSEPH
com valor de "José"? Si adoptamos ABRAHÃO e JEHOVAH, por que não JOHÃO,
que em latim é JOHANNES? E si adoptamos RACHEL e MALACHIAS, por que não
JOACHIM? Claro que, nesse caso, as equivalencias femininas seriam
JOSEPHA, JOACHINA e JOHANNA, pois nesta ultima reflectiria o "N"
geminado.

Não preconizo taes graphemas como norma, mas creio que o bom senso do
escriptor será sufficiente para deliberar sobre cada caso. Concluo
lembrando que vou incluindo as pertinentes alternativas no DICCIONARIO
ORTHOGRAPHICO, agora disponivel na nuvem attravez do link abbaixo. Até o
mez que vem!

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sábado, 3 de outubro de 2015

OUTUBRO/2015: ANNUVEANDO PARA DESANNUVEAR

Este mez só comparesço ao nosso blog de notas para communicar que venho
trabalhando na preparação dos archivos de texto que alguem me adjuda a
collocar na nuvem. Entre os titulos disponibilizados estão o TRACTADO DE
ORTHOGRAPHIA LUSOPHONA e a respectiva ampliação que resultou no actual
DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO PHONETICO/ETYMOLOGICO, cujo contehudo pretendo
manter actualizado, isto é, desactualizado em relação ao "accordo"
vigente mas em dia com a interminavel e incansavel pesquisa que faço no
lexico vernaculo, garimpando os graphemas que possam ser
etymologicamente "complexificados", a fim de radicalizar uma tendencia
opposta à nivelação por baixo pretendida pelos reformistas de plantão.
Emquanto me despeço até a proxima postagem, deixo aos interessados o
link para accessar o menu das obras mattosianas disponiveis na nuvem.


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sábado, 29 de agosto de 2015

SEPTEMBRO/2015: DESUNIÃO FAMILIAR

Trez interessantes questões me foram propostas pelos leitores deste blog
de notas. A primeira diz respeito aos verbos da "familia" TRAHIR. Um
internauta cobra a seguinte explicação: Si todas as flexões onde occorre
hiato levam "H" nos "membros" da familia (ATTRAHIR, CONTRAHIR,
DISTRAHIR, EXTRAHIR, etc.) e si verbos de outras familias (CAHIR, SAHIR,
ESVAHIR) seguem esse paradigma, por que o mesmo não occorre com os das
familias que teem "U" em vez de "A" no radical, como FLUIR (e seus
familiares AFFLUIR, INFLUIR, etc.), CONTRIBUIR, CONSTITUIR, e assim por
deante?


Minha resposta é que a simples fonte latina não basta para explicar.
Verbos como TRAHIR e CAHIR teem matrizes em TRADERE e CADERE, mas SAHIR
vem de SALIRE e ESVAHIR ja tem formação vernacula, de ESVAESCER (que por
sua vez vem de ESVANESCER, que vem de EVANESCER, ou EX+VANESCER), com
troca do suffixo "ESCER" por "IR". A rigor, seria até admissivel a forma
EXVAHIR. A presença do "H", portanto, tem funcção ao mesmo tempo
phonetica e etymologica, justificada pela prosodia nos hiatos e pela
tradição escripta. Sempre cabe lembrar que, na terceira pessoa, como
occorre diphthongo em vez de hiato, o "H" desapparesce: CAE, SAE, TRAE,
ESVAE, bem como nas flexões CAIA, SAIA, TRAIA, ESVAIA. Quanto aos
radicaes vocalizados em "U", são da terminação latina "UERE", que deu
"UIR", sem nenhuma perda consonantal, dahi não levarem um "H" para
compensar. Pessoalmente, acho que o portuguez bem poderia, la attraz,
ter adoptado o "H" nos hiatos em geral, o que evitaria certas duvidas,
mas agora a tradição de seculos ja se firmou. Convem attentar para a
differença entre as graphias anterior e posterior a 1943: aquella que os
phoneticistas agora adoptam é "elle CONTRIBUI" (presente), "eu
CONTRIBUÍ" (preterito), emquanto aquella que adopto é "elle CONTRIBUE"
(presente), "eu CONTRIBUI" (preterito), ficando claro que, neste ultimo
caso, caberia bem um "H" em "CONTRIBUHI" que, infelizmente, não se
pensou em adoptar.


Si a familia TRAHIR é objecto dessa "trahição" etymologica, outras
familias suscitam duvidas entre os leitores, como a dos verbos em
SPIRAR. Si temos CON+SPIRAR, IN+SPIRAR, PER+SPIRAR, RE+SPIRAR, por que
desapparescem consoantes na composição com alguns prefixos, como "AD",
"EX", "SUB" e "TRANS"? Boa pergunta. No primeiro caso, o proprio latim
admittia duplicidade graphica: ASPIRAR e ADSPIRAR (analogamente a outros
casos prefixados em "AD+SP", como ASPECTO e ASPERGIR), donde a
possibilidade de graphar ASPIRADOR ou ADSPIRADOR, ASPECTO ou ADSPECTO.
Em outros casos, a tradição supprimiu o "S", como em EX(S)PIRAR e
TRANS(S)PIRAR. No caso de SU(B)SPIRAR, como em SU(B)SPEITAR
[SU(B)SPECTAR], houve suppressão do "B", differentemente de SUS+PENDER
ou SUS+TER, onde o "B" se transformou em "S" desde o latim.


Outra familia de reputação suspeita é a dos verbos em PUTAR, que nada
tem a ver com a puta ou prostituta, mas com o latim PUTARE que, si lhe
applicarmos todos os prefixos, dará verbos como APPUTAR, OPPUTAR e
SUPPUTAR, mas que nos interessa aqui por causa do verbo COMPUTAR,
existente no portuguez ao lado de CONTAR, que tem a mesma origem, ou
seja, dois filhos da mesma matriz, que não é meretriz mas tem um
legitimo e um bastardo. Ao bastardo refere-se o leitor que me pergunta
si não deveriamos, então, graphar COMPTAR, COMPTA, COMPTO,
COMPTABILIDADE, COMPTISTA, etc. A rigor, sim, como fazem os francezes,
que até differenciam COMPTE (conta) de CONTE (conto). Mas a tradição
escripta ja consolidou CONTAR para as duas accepções, numerica e
narrativa, de modo que não acho necessario haver trez formas (CONTAR,
COMPTAR e COMPUTAR) para a mesma palavra. Em todo caso, registrei as
alternativas no nosso diccionario.


Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.


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sábado, 1 de agosto de 2015

AGOSTO/2015: ORTHOGRAPHIA E ORTHODOXIA

Ao preparar um capitulo inedito sobre poesia e orthographia para a
reedição de seu livro POESIA & UTOPIA: A FUNCÇÃO SOCIAL DA POESIA E DO
POETA, originalmente publicado em 2007 pelo sello paulistano
Escripturas, Carlos Felippe Moysés me contempla com a seguinte allusão:

{O acaso [...] levou-me a tomar conhescimento da verdadeira cruzada em
que o poeta brazileiro Glauco Mattoso vem-se empenhando, na tentativa de
nos convencer a adoptar a sua "orthographia etymologica". Fosse outro,
seria só mais uma extravagancia. Mas tractando-se de um poeta maior, a
quem apprendi a admirar desde os tempos do "Jornal Dobrábil" (na
orthographia então vigente), pensei: vae ver, orthographia meresce
alguma attenção. [...] Alem de passar a graphar [...] seus decasyllabos
escrupulosamente medidos e rhymados, [...] Glauco chegou a organizar um
formidavel DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO PHONETICO/ETYMOLOGICO, ja na
quincta edição , [...] em cujas paginas de abertura esclaresce: "Um
diccionario tão especifico não teria utilidade apenas para seu auctor e
para aquelles que prefiram escrever pela norma mais classica, mas para
todos os estudiosos do idioma e de suas transformações historicas,
independentemente de tendencias conservadoras, reformadoras ou
restauradoras. Tracta-se, portanto, d'uma obra linguistica de interesse
geral". [...] Considerados os exemplos possiveis (o de Mario, o de
Pessoa, o de Glauco e outros mais), todos parescem confirmar o que ja se
sabe, quanto à substancia essencial do acto poetico: rebeldia,
insubmissão, inconformismo, com mais ou menos discreta, mais ou menos
espalhafactosa dose de humor e ironia. Necessidade de transgredir, em
summa, de luctar não só com as "palavras", como lembra Drummond, mas com
toda e qualquer lei ou regra "official", que cerceie a liberdade do
poeta. A grammatica é só uma das "leis" impostas pelo systema, e a
orthographia é talvez a mais innocente, a menos tyrannica de suas
"normas". Della é sempre possivel livrar-se, bastando para isso
dominal-a, a fim de submettel-a ao crivo da imaginação creadora e da
inventividade: engenho e arte, como dizia Camões. Orthographia, não sei
si chega a ser "gente", mas sei que é só metaphora. Rebellar-se contra
ella ou é acto gratuito, mero desconhescimento de causa, ou é
rebellar-se contra outra coisa. E manifestar a revolta profunda gerada
pelas tyrannias em relação às quaes nos resta pouco ou nada a fazer. A
não ser, de vez em quando, dar attenção a "alguma poesia", para que a
lingua commum continue à disposição de todos. Ou para manter acceso o
sonho de liberdade.}

No prefacio assignado por Jorge Sallum para meu livro POESIA VAGINAL:
CEM SONNETTOS SACANAS, recem lançado pelo sello Hedra, sou assim
analysado, sob o titulo "A grande sacanagem historica de ainda escrever
sonnettos":

{Uma das primeiras coisas a se notar é a retroimpregnação (para usar um
palavrão) da forma com a graphia. O sonnetto é uma forma antiga. Antiga
é a poesia em lingua portugueza. Antiga (na verdade, archaizante) é
então a graphia de Glauco Mattoso. [...] Mais importante, a graphia
archaizante gera nestes sonnettos um attrito, digamos, interno com a
thematica, o vocabulario e a syntaxe contemporaneos, depois que estes
tinham sido ja admoldados à  forma fixa. [Phoneticamente graphando:]
"Sejamos francos: sexo é sujo. A pica / é suja. Uma buceta é também
suja. / Fudeu o dito cujo a dita cuja? / Juntou sujo com sujo:
justifica". A linguagem é directa, quasi colloquial, apesar da trama
sonora e das rhymas ricas como picca-justifica e suja-cuja . Dahi vem a
pista para a graphia, que é tambem sonoridade: não se tracta de
verdadeira escripta archaica, mas de uma parodia, posta a serviço da
densidade sonora. Dahi a versão original destes quattro versos ter muito
mais attritos sonoros do que a versão "limpa" accyma: "Sejamos francos:
sexo é sujo. A picca / é suja. Uma boceta é tambem suja. / Fodeu o dicto
cujo a dicta cuja? / Junctou sujo com sujo: justifica". O campo sonoro
do poema é marcado e/ou determinado pela aspereza e pela "espessura" de
suas consoantes recorrentes, "s", "j", "f", "x", reforçadas pela
predominancia da vogal fechada "u". O uso de novos "cc" em "dicto",
"dicta", "junctou", cria um som, "k(i)t", que é uma versão mais secca de
"x" ("x[i]s"), alem de augmentar a aspereza geral pelo augmento do
numero de consoantes (que são estructuraes), e particularmente pela
occorrencia de encontros consonantaes. O campo sonoro do poema, emfim,
fica mais aspero, mais "sujo".}

Para synthetizar as duas analyses, dizem que minha escripta desempenha,
ao lado de outros tropos e metaplasmos, o papel duma figura de linguagem
addicional que teria funcção essencialmente poetica: para Moysés, de
metaphora anarchizante; para Sallum, de parodia archaizante. Eu poderia
adduzir que um outro effeito tropico ou metaplastico da escripta
etymologica seria configurar aquillo que pode ser chamado de
"graphopopéa", no sentido de dar voz lyrica à morphologia das palavras,
assim como a onomatopéa a dá à phonetica e a prosopopéa à personificação
material ou animal.

Todas essas interpretações são procedentes, na medida em que traduzem
attitudes transgressivas a alguma norma imposta e generalizada. O
paradoxo, no meu caso (e vivo affirmando-me como paradoxal) seria que me
rebello contra a dictadura das reformas por meio duma reacção retrô, em
vez de me collocar em posição mais advançada ou vanguardista. Em outras
palavras, quando a orthodoxia é representada pela graphia official,
phonetica, a heterodoxia accaba sendo a adopção da graphia "prohibida",
etymologica, assim como o sonnetto accaba sendo revolucionario quando o
poema livre tornou-se obrigatorio.

Nada teria eu a objectar, ja que reconhesço as imputações anarchicas e
archaicas. Só tenho a resalvar que, ao contrario do que suggerem taes
posturas, não as assumo meramente em funcção da "adventura" poetica,
dramaturgicamente tragica ou comica, mas em funcção da vida, que não é
só theatro, embora o seja socialmente. Digo isto em defesa da verdadeira
fé com que professo a dicta "cruzada" contra o reformismo orthographico:
não estou brincando de imitar os classicos, nem só posando de
anticonvencional. Eu realmente accredito na minha excentricidade, não
apenas como comportamento individual do livre-pensador ou do
franco-attirador, mas como convocação collectiva a uma restauração
classicista. Não tem gente que crê na redempção humana pela lucta
classista? Pois bem, eu creio na recyclagem cultural pela lucta
classicista. Como diz o verso de Pessoa alludido por Moysés, "A
orthographia tambem é gente". Si minha patria é minha lingua, minha
cidadania é minha escripta, contra a qual nenhum Estado Novo, nenhuma
Nova Republica ou nenhum "accordo" academico tem poder legislador. Quem
estiver commigo que me siga. Quem estiver contra mim que me considere
quixotesco. Si eu for lido por pelo menos um fiel escudeiro, ja seremos
dois cavalleiros andantes. O resto é litteratura.

Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.

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sábado, 4 de julho de 2015

JULHO/2015: O JOGO DE CINCTURA DA VELHA GAGÁ


Certa vez ouvi um argentino referir-se a Miami pronunciando com "I"
mesmo e não, como nós, "maiami". Achei extranho mas, parando para
pensar, concordei que, sendo mais politizados (portanto menos
colonizados), estariam certos aquelles que respeitam sua lingua natal.
Affinal, não são os francezes que chamam Glauber Rocha de "globê rochá"?

Pensando melhor, notei que ja fomos mais ciosos da lingua portugueza, a
julgar pela pronuncia de alguns nomes anglophonos. Aqui nunca dissemos
"colgueite" ou "palmolaive" quando fallavamos das marcas Colgate e
Palmolive. Os perfumes da Avon sempre foram annunciados pelo slogan
"Avon chama!", que nunca soou como "êivon". A emissora londrina era
"bebecê" mesmo e não "bibici". Si a CIA espionasse os computadores da
IBM, não seria a "ciaiei" na "aibiem". Logo, não haveria motivo para
chamar a NBA de "enbiei". A graxa de sapatos Nugget era "Nuguéte" e
nunca "Nâguet". Até marcas alternativas foram lançadas aqui, para
respeitar a nossa prosodia: em vez de "tough man", Taff Man"; em vez de
"hangover", Engov.

Provavelmente por culpa da internet, mas tambem por factores mais
geopoliticos (os adeptos da theoria da conspiração que o digam), hoje em
dia ficamos mais macaquinhos da anglophonia. Palavras impronunciaveis,
ainda que perfeitamente traduziveis, são teimosamente introduzidas entre
nós e macarronicamente repetidas a cada modismo cybernetico. A peor
dellas é, de longe, a maldicta "hashtag", que todo mundo pronuncia
mascando feito chiclette: "xexexegue". Um tal de "xexexegue" p'ra ca,
"xexexegue" p'ra la... Um sacco! Não querem dizer "anthyphen"? Não
querem dizer "cerquilha"? Não querem siquer dizer "sustenido", como nas
partituras? Mas no proprio inglez aquelle raio de signalzinho se chama
"number sign"! Pois chamem de "nâmber", então, si não quizerem
pronunciar "númber"! Mas não me venham mastigar aquelle xexelento
"xexexegue" como um velho gagá mastigando a dentadura! Que raiva! Meu
consolo é que, como todo modismo, essa mania vae desapparescer em breve,
como ja obsolesceram o orkut e a second life. Nada perco por esperar.

Outra conclusão a que se chega é aquella velha historia de que, em se
tractando de macaquear, sempre imitamos dos americanos as coisas ruins e
desprezamos as boas. A lingua ingleza não nos offeresce só exemplos
detestaveis como o erradissimo termo "paralympic", que deveria ser
"parolympic" até para elles. Ha tambem optimos exemplos de correcção
graphica, que deveriam ser observados pela macacada tupyniquim.

Meu companheiro Akira, que é professor de inglez, cansou de ver alumnos
habituados a ler a marca General Electric e, na hora de escrever, elles
só conseguem pôr" "eletric" no papel. Si escrevessemos "electricidade" e
"electrico", como antes das reformas, seria um erro a menos.

Para nosoutros, etymologistas convictos, resta estoutro consolo de que,
pelo menos, os mais attentos estudantes de inglez teem alguns graphemas
classicos como modello, adjudando a decorar as equivalentes formas
vernaculas. Assim, fica mais facil lembrar que "telephone",
"photographia", "philosophia" ou "physica" levam "PH", no caso de
hellenismos. Mas cuidado! Tambem levam "PH" palavras como "phantasma" e
"phantasia", embora elles sejam incoherentes, graphando "phantom" mas
admittindo o erroneo "fantasy"... No caso dos latinismos, tambem vale
alguma macaquice: "collection" como "collecção", "application" como
"applicação", "support" como "supporte", "occupy" como "occupar"... Mas
cuidado! Elles escrevem "literature" com um "T" só, quando o certo é
"litteratura"!

Cuidado tambem com latinismos typo "auctor" ou "auctoridade", que para
elles são "author" e "authority"! Si tivermos o devido discernimento, o
estudo do inglez pode ser muito util a quem pretenda seguir a norma
classica aqui practicada, digo, aqui no blog, não nesta bosta de paiz,
ou nesta "shita", como diriam os macaquinhos, que não distinguem Sheeta
de shit!

Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.

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sábado, 6 de junho de 2015

JUNHO/2015: HOMOPHONIA NÃO É HOMOGRAPHIA

Ja tractei deste poncto em outras opportunidades, mas, deante de novos
questionamentos dos leitores, volto ao assumpto. Uma das damninhas
consequencias da orthographia reformada é a reducção de graphemas
distinctos a falsas homographias, como em HYPOTHESE e HIPPODROMO, cujo
primeiro elemento se confunde como "hipó" na forma phonetica, e ja
expliquei o damno neste blog. Outros casos que merescem explicação são
CANTO e CANTHO, TENTAR e TEMPTAR, ATTENTAR e ATTEMPTAR, TROMBA e
THROMBO, TESOURA e THESOURO, EXCOLHA e ESCOLHO, NOVELLA e NOVELO, ROMBO e RHOMBO, ANAL e ANNAL, CAPÃO e CAPPÃO, FILTRO e PHILTRO, COLA e COLLA, GRAMA e GRAMMA, PENA e PENNA. Então examinemos um a um.

O substantivo CANTO, no sentido vocal (donde CANTORIA, CANTIGA, CANTICO,
ENCANTAMENTO) differe do substantivo CANTHO, no sentido local (donde
RECANTHO, CANTHONEIRA, ESCANTHEIO, ACCANTHONAR), como venho insistindo.

O verbo TENTAR tem a ver com o substantivo TENTATIVA, e TEMPTAR com
TEMPTAÇÃO. O verbo ATTENTAR tem a ver com o substantivo ATTENÇÃO, e
ATTEMPTAR com ATTEMPTADO. Paresce simples, mas ainda ha confusão sobre
isso porque o proprio latim não adjuda muito, ja que o verbo TEMPTARE
tambem apparesce às vezes como TENTARE e, peor, admitte as duas
accepções (de "experimentar" e de "seduzir"), cabendo a nós,
novilatinos, fazer a distincção, ja que estamos numa epocha de muitos
attemptados e é preciso prestar muita attenção...

Quanto a TESOURA, vem (segundo Julio Nogueira) de TONSORIA (forma
feminina de TONSORIUS), que tem a ver com TONSURA e com TOSAR, ao passo
que THESOURO vem do latim THESAURUS. Assim como TEOR não tem a ver com
THEORIA, a distincção accaba se perdendo por causa da orthographia
reformada.

Quanto a TROMBA, tem a ver com TROMPA, donde TROMBADA e TROMBUDO sem
"H", differentemente de THROMBO, que tem a ver com THROMBOSE. Nogueira
(auctor dum manual orthographico utilissimo nos annos 1920) admitte que
o "H" de THROMBOSE pudesse cahir, mas discordo delle em todos os casos
de simplificação por mero abandono dum graphema rigorosamente
etymologico e, portanto, sustento que é justamente o "TH" de THROMBO o
differencial em relação a TROMBA.

O substantivo EXCOLHA, acto de EXCOLHER, vem do latim EXCOLLIGERE, ao
passo que ESCOLHO vem de SCOCULUS, que por sua vez vem de SCOPULUS, que
no italiano deu SCOGLIO.

O substantivo NOVELLA é puro latinismo, ao passo que NOVELO vem de
GLOBELLUS e nos chegou tão impuro que os orthographos sempre admittiram
a forma com simples "L", embora os mais radicaes se sintam liberados
para usar "L" duplo. Segundo Nogueira, {Existe a geminação em innumeras
formas diminutivas, ja moldadas em radicaes latinos, ja de creação
vernacula: BARBELLA, CABELLO, CUTELLO, CODICILLO, CADELLA, CANCELLA,
DONZELLA, JANELLA, MARTELLO, MAMMILLO, NOVELLA, PUPILLO, PUGILLO,
SCINTILLA, TABELLA, CELLULA. Por falsa analogia muitos escrevem
erradamente CAUTELA com "LL".} Sendo tanto ELLA quanto ELLO legitimas
desinencias diminutivas e sendo GLOBELLUS tambem diminutivo,
justificar-se-ia sem conflictos a forma NOVELLO e fica a criterio do
escriptor a excolha.

Quanto a ROMBO, no sentido de "buraco" (que tem a ver com ARROMBAR),
pede graphia sem "H", ao passo que RHOMBO, no sentido de "poncta" ou
"angulo" (donde RHOMBUDO e RHOMBOIDE), tem a ver com RHUMO e ARRHUMAR,
pois, como explicam os etymologistas, na antiga rosa dos ventos cada
RHOMBO (poncteiro em forma de losango) apponctava numa direcção ou
RHUMO, uma vez que do latim RHOMBUS provem RHOMBO e RHUMBO, que virou
RHUMO, emquanto o actual RHOMBO permanesce como synonymo de losango.

O adjectivo ANNAL tem a ver com ANNO e é mais usado no plural, como nos
annaes do Congresso, ao passo que ANAL tem a ver com ANUS, ainda que o
producto de ambos os adjectivos seja fecal e feda quanto mais mexido.

Quanto a CAPÃO, assim como CAPIM, tem a ver com o typo de vegetação dum
terreno, ao passo que CAPPÃO é o animal castrado ou CAPPADO, dahi
grapharmos como Capão Redondo um bairro da peripheria paulistana e como
cappão redondo um leitão bem gordo.

Quanto aos substantivos FILTRO e PHILTRO, passo a palavra a Nogueira,
com quem estou de accordo neste topico: na significação de "bebida", que
tinha a virtude de inspirar o amor, PHILTRO está ligado à morphologia de
PHILO, donde o "PH". Não confundir, porem, com FILTRO, do baixo latim
FILTRUM, de morphologia muito diversa, donde provem FILTRAR, ENFILTRAR,
INFILTRAR, palavras estas corradicaes de FELTRO, que deu FELTRE em
francez e FIELTRO no hespanhol.

O substantivo COLA (rabo ou cauda), que só leva um "L", differe de COLLA
(gomma), dahi que não posso usar "L" geminado quando digo que alguem
está na minha cola, embora ninguem queira me enrabar e sim me perseguir
ou seguir de perto.

O substantivo feminino GRAMA (matto) differe de GRAMMA (peso), que é
masculino.

Quanto a PENA, seja no sentido de compaixão ou de punição, differe de
PENNA (pluma), dahi a phrase explicando que um juiz de penna dura (ou
canneta dura) seria aquelle que applica uma pena dura sem pena. Em
tempo, esse juiz não tem coração molle, lembrando que MOLLE tem "L"
duplo mas MOLA não.

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sábado, 9 de maio de 2015

MAIO/2015: A PRACTICA ATTICA RHYMANDO COM A GRAMMATICA


Si o atticismo é synonymo de rigor formal na linguagem escripta, pode-se
dizer que uma attitude attica em relação à orthographia adjuda a
esclarescer diversas questões grammaticaes, dessas que alguns
professores respondem pela imprensa ou pelo radio. Sinão, vejamos:

A differença entre RECTIFICAR e RATIFICAR fica mais evidente quando,
pela norma etymologica, verificamos que RECTIFICAR corresponde a RECTO e
CORRECTO, sendo, portanto, equivalente a CORRIGIR. Quanto a RATIFICAR
(com um só "T"), equivalente a CONFIRMAR, o factor mnemonico adjutorio
seria o sentido opposto ao do substantivo RATA (erro ou falha, com dois
"TT"), ou seja, RATIFICAR (latim RATIFICARE) é reaffirmar o que está
certo, emquanto RATTEAR é commetter erros ou RATTAS, e não deve ser
confundido com o verbo RATEAR, de RATEIO. O substantivo RATTA, por sua
vez, tambem se oppõe a ERRATA, synonymo de correcção, ja que uma ERRATA
repara uma RATTA.

A differença entre DESPERCEBIDO e DESAPPERCEBIDO fica mais evidente
quando, pela duplicidade do "P", verificamos que APPERCEBER-SE
corresponde a prevenir-se, ter cuidado ou attenção, e DESAPPERCEBER-SE
corresponde à desattenção. Fica, portanto, mais facil de comprehender
que um facto passa DESPERCEBIDO quando ninguem repara nelle e que um
subjeito DESAPPERCEBIDO é aquelle cuja distracção ou desinformação o
impediu de prestar attenção em algo importante. Por outras palavras, uma
situação de perigo pode passar DESPERCEBIDA quando alguem está
DESAPPERCEBIDO della.

A differença entre EMIGRANTE e IMMIGRANTE fica mais evidente si tivermos
em mente que em IMMIGRANTE occorre a assimilação do "IN" (para dentro) e
em EMIGRANTE a assimilação do "EX" (para fora), sendo, portanto,
IMMIGRANTE aquelle que vem de fora e EMIGRANTE aquelle que vae para
fora, do poncto de vista de quem está num logar. O substantivo em
questão é MIGRANTE, quando o poncto de vista é de quem não se posiciona
naquelle poncto, mas apenas observa de longe.

A differença entre os verbos COMPROMETTER e COMPROMISSAR nem deveria
existir. Basta o verbo COMPROMETTER correspondendo ao substantivo
COMPROMISSO. Occorre que COMPROMETTER ganhou uma accepção meio negativa,
suspeita, meio... compromettedora, dahi a alternativa COMPROMISSAR, pois
alguns politicos, por exemplo, preferem estar compromissados com alguma
causa a estar compromettidos com algum escandalo. Ja o substantivo
COMPROMETTIMENTO, usado tanto por politicos como por esportistas, soa
desnecessario, para não dizer descabido, tal como o APPOIAMENTO que
muitos politicos adoram. Si fossemos por esse caminho, daqui a pouco
teriamos os verbos COMPROMETTIMENTAR e APPOIAMENTAR. Vamos com calma.

Quanto aos verbos EMPANAR e EMPENAR, temos uma subtil alternativa
graphica em ambos. No sentido culinario, EMPANAR (de PÃO) leva um só
"N", mas no sentido de offuscar leva dois, pois EMPANNAR vem de PANNO.
No sentido de entortar, EMPENAR leva um só "N" (de PINO, como EMPINAR),
mas no sentido de emplumar leva dois, pois EMPENNAR vem de PENNA. Eu até
levantaria a hypothese de que só deveria haver EMPENNAR com "N" duplo,
pois toda penna que vi na vida era torta, mas si os etymologistas foram
buscar o radical de PINO (latim PINUS), não vou discutir.

Taes verbos nos remettem à questão da falsa homographia accarretada
pelas reformas phoneticistas. Entre ADITO (entrada), ADYTO (sanctuario)
e ADDITO (somma), falsamente graphadas como "ádito"; CANTO (vocal) e
CANTHO (local); COLA (cauda) e COLLA (gomma); PENA (punição, dó) e PENNA
(pluma); ESCATOLOGIA (fezes) e ESCHATOLOGIA (finalidades); GRAMA (matto)
e GRAMMA (peso); FATO (roupa) e FACTO (occorrencia); FILTRO (crivo) e
PHILTRO (bebida); PATA (ave) e PATTA (membro); RESONAR (som) e RESOMNAR
(somno), falsamente graphadas como "ressonar"; SUMO (succo) e SUMMO
(supremo); EU CONSUMO (consumir) e EU CONSUMMO (consummar), a
exemplificação deixa evidente o motivo de taes vocabulos não serem
confundiveis, pelo simples facto de não serem homographos, como a
escripta phonetica falsamente suggere.

Ja o caso do adjectivo IMMEXIVEL meresce commentario mais amplo. Si bem
me lembro, o termo foi introduzido por Rogerio Magri quando ministro do
trabalho de Collor, para referir-se à intangibilidade de certos direitos
adquiridos, tal como fez a actual presidente ao empregar a expressão
"nem que a vacca tussa" para garantir que não mexeria na legislação
trabalhista. Por fallar em bichos, Magri era ridicularizado por suas
declarações impensadas (como quando, flagrado transportando a cadella de
estimação ao veterinario em vehiculo official, teria allegado que
"cachorro tambem é um ser humano") e o termo IMMEXIVEL entrou no
folklore jornalistico e grammatical como evidencia do despreparo do
syndicalista. Piccuinhas politicas à parte, cabe assignalar que, tal
como o vocabulo INTOCAVEL (que não pode ser tocado), IMMEXIVEL é
perfeitamente acceitavel dentro dos principios da morphologia vernacula.
Para nós, orthographos, o que importa é comparar INTOCAVEL e IMMEXIVEL
face ao prefixo "IN", que, no caso de morphema iniciado em "M", implica
assimilação e consequente geminação, como em IMMATERIAL, IMMIGRANTE ou
IMMUTAVEL. Dicto isto, não respondo pelas demais arbitrariedades
practicadas pelo ministro, mas endosso quaesquer vocabulos cunhados à
semelhança deste, como IMMAMMAVEL, IMMERDAVEL, IMMIJAVEL, IMMOSTRAVEL ou
IMMUSICAVEL. E fim de pappo.

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sábado, 11 de abril de 2015

ABRIL/2015: SUPPORTE TECHNICO


O leitor Adalberto me questiona: "Por que você escreve ENNOBRESCER e
ENNERVAR com "N" duplo e ENAMORAR, ENOJAR e ENUMERAR com "N" simples?
Não seria o mesmo caso de assimilação que resulta em geminação?"


Minha resposta: São casos differentes. Nem se tracta de assimilação,
pois o prefixo é "EN" e não "EM". Portanto, em EMMAGRESCER ha
assimilação de EN+M, mas em ENNOBRESCER ha juxtaposição de EN+N. Ja em
ENAMORAR a juxtaposição é de EN+AMOR+AR; em ENOJAR occorre uma
corruptela do latim INODIARE; em ENUMERAR occorre fusão de EX+NUMERARE,
resultando no desapparescimento do "X". No caso de ENOJAR pode-se
admittir a forma ENNOJAR por analogia com ENFASTIAR ou ENVERGONHAR, em
detrimento da rigorosa etymologia e em favor da coherencia, a criterio
do escriptor.


O leitor Sergio indaga: "Notei que o Aulete registrava os verbos CANÇAR
e SOCEGAR com "C", alem do substantivo PECEGO. Você não segue essa
tendencia. Por que?"


Minha resposta: Nesses casos considero melhor a graphia actual, primeiro
porque evita uma cedilha para CANSAÇO, em vez de CANÇAÇO e, segundo,
porque acho sempre preferivel uma consoante geminada, como em SOSSEGO e
PESSEGO. Em terceiro logar, porque, ironicamente, a graphia actual
accaba sendo mais etymologica, pois PESSEGO vem de PERSICUM, SOSSEGAR de
SESSICARE e CANSAR de CAMPSARE, que, aliaz, daria CAMPSAR e CAMPSAÇO si
fossemos estrictamente rigorosos. Segundo o Lello, o verbo latino seria
outro, QUASSARE, mas isso não invalidaria o "S". Por isso mesmo prefiro
as formas ASSUCAR e SOSSOBRAR, que na graphia reformada ficaram "açúcar"
e "soçobrar". Tudo é questão de conciliar um criterio coherente com uma
tradição menos accentuada e mais generosa na quantidade de consoantes.


O leitor Flavio indaga: "Ouvi dizer que Fernando Pessoa era adepto da
orthographia antiga e escrevia ANCIA, ANCIOSO, em vez de ANSIA, ANSIOSO,
como você registra. Qual a forma preferivel e a razão?"


Minha resposta: Na verdade, nem ANCIA, nem ANSIA seria mais correcto, e
sim ANXIA, como no latim. Accabam sendo acceitaveis as trez formas, mas,
entre "C" e "S", prefiro com "S". Quanto ao Pessoa, não apenas elle, mas
outros grandes auctores novecentistas reagiram contra o reformismo
phonetico. Só os nascidos depois da decada de 1940 acceitaram
passivamente o phoneticismo, com algumas excepções, não é mesmo?


O leitor Desiderio informa: "Venho communicar-lhe accerca de uma pagina
no facebook, a qual tambem me inspirou a adoptar uma graphia mais
correcta, tracta-se de 'Orthographia Universal da Lingua Portugueza',
creada por Edward Luiz Ayres d'Abreu. Segue-se abbaixo o ligame para a
pagina."


https://www.facebook.com/orthographiaportugueza


Minha observação: Tanto o termo "ligame" para link, como "ratto" para
mouse ou "pastilha elastica" para chiclette, são opcionaes, a criterio
do escriptor, ja que a graphia etymologica não impõe a vernaculização de
extrangeirismos nem seu apportuguezamento, como em "deletar" ou
"linkar". E viva a liberdade!


O leitor Eduardo commenta: "Glauco, escutei no radio o professor Sergio
Nogueira defendendo a graphia de MUSSARELLA com "Ç", alem de outras
palavras, como ASSUCAR e PASSOCA. Que é que você diria a elle?"


Minha resposta: Até que o Sergio não é dos mais radicaes phoneticistas,
pois ja o ouvi dizendo que, em vez de propor reformas, seria melhor que
os academicos deixassem a orthographia como estava. Pena que alguem como
elle não disse isso em 1943, né? Agora só lhe resta recommendar a
ridicula cedilha, admittindo, meio sem graça, que todo mundo
apportugueza MOZZARELLA como MUSSARELLA, ainda que o duplo "L" fique por
conta dos etymologistas... Uma pena. Sergio sabe tractar do assumpto com
bom humor, uma virtude incommum entre os grammaticos. Bem que elle
poderia ser um dos nossos, como o outro Nogueira, o Julio...


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sábado, 14 de março de 2015

MARÇO/2015: MIXTA ENTREVISTA


Durante o intervallo de verão, annotei alguns ponctos levantados por
leitores. Desiderio e Yuri me advisaram sobre a creação de grupos no
facebook para compartilhamento de informações accerca da etymographia e
Philippe entrevistou-me ao longo de semanas. Abbaixo transcrevo os links
e uns trechos da entrevista.


https://www.facebook.com/groups/1565209547058921/
https://www.facebook.com/groups/1446724495614884/


P - A forma de todos os vocabulos de seu diccionario é a mesma utilizada
por Machado de Assis ou Lima Barreto, por exemplo, ou naquella epocha ja
havia divergencias na graphia devido não haver leis que regulassem a
escripta?

GM - Até a decada de 1940 os auctores mais lettrados practicavam uma
escripta mais rigorosa, outros relaxavam um pouco, ja que não havia uma
regra "official", apenas o registro dos diccionarios e as recommendações
dos grammaticos. Era a epocha do chamado systema etymologico "mixto",
que admittia algumas simplificações incoherentes, typo "actor" com "CT"
e "auctor" sem o "C", ou "sanccionar" e "sancção" ao lado de "sancto",
este sem o "C". Machado, Bilac e seus contemporaneos às vezes cahiam
nessas armadilhas, que procurei evitar uniformizando taes parallelismos,
como você verá. Quanto a mim, sou nascido depois da decada quarentista,
mas tambem me revoltei com o ultimo "accordo" e resolvi readoptar a
graphia que ja usara no inicio da carreira litteraria. Emfim, estamos no
mesmo barco.

P - Você graphou meu nome (Felipe) com o "p" geminado (Felippe) e eu
gostaria de entender o porquê. Na verdade a duvida é si meu nome deveria
ser graphado Philippe, como era antigamente, lembrando que "Felipe" não
é portuguez, e sim castelhano! Meu nome em portuguez seria "Filipe", com
"I" na primeira syllaba, dahi ser logico graphar "Philippe", mas sendo
castelhano, o correcto não seria manter "Felipe" mesmo, sem dobrar o
"p"?

GM - Felippe (ou Filippe), em materia de nomes proprios não pode haver
obrigatoriedade, ao contrario do que querem os phoneticistas, que
alteraram na marra Luiz para "Luís" e "corrigiram" o de Camões de Luiz
Vaz para "Luís Vás", mas tiveram que voltar attraz. Aqui tentaram
"reformar" os consagrados Raymundo Correa e Rachel de Queiroz e muitos
carneirinhos engoliram "Raimundo Correia" e "Raquel de Queirós".
Problema delles, né? Na practica, ignoramos as idiosyncrasias academicas
e coexistem formas parallelas, como Affonso e Alphonso, Adrianna e
Hadriana, Joachim e Joaquim, Aloysio e Aluizio. No seu caso, o mais
etymologico seria mesmo Philippe, forma anthroponymicamente inversa a
"hippophilo", aquelle que gosta de cavallos. Os inglezes até collocam um
"L" a mais no sobrenome Phillips, por exemplo. Os hespanhoes tiram o "H"
de Henrique e os italianos de Hugo, mas nem por isso deixamos de
accompanhar o Henri francez e o Henry inglez. Eu mesmo, que tenho José e
Silva no nome civil, qualquer hora mudo meus documentos para Joseph e
Sylva, que prefiro. Emquanto isso, vou escrevendo sob pseudonymos,
heteronymos, litteronymos e cyberonymos... (risos)

P - A respeito da pronuncia de certos vocabulos, a orthographia classica
adoptada por você(e que por mim tambem será apoz me adaptar a ella e
sanar algumas duvidas) tem como intuito alterar a lingua escripta
somente, ou você tambem crê que ha discrepancias na pronuncia que
deveriam ser tractadas com mais rigor quando corrigidas as palavras na
escripta? Um exemplo: "Acepção", que na graphia classica ficaria
"ACCEPÇÃO", tanto na graphia classica quanto na actual, pronunciamos
este "P" mudo, mas ja em "Exceção", que na graphia classica ficaria
"EXCEPÇÃO" accrescenta-se um "P" que hoje em dia ja não é pronunciado.
Para uma maior concordancia com a idéa etymologica como um todo, não
seria correcto pronuncial-o tambem, ou elle só deve existir na
escripta(o que mostraria uma certa arbitrariedade na pronuncia de certos
vocabulos)? O mesmo vale para "Averiguar", "Ameaçar", "Aversão" e
"Amedrontar", que na graphia classica ficariam "ADVERIGUAR", "ADMEAÇAR",
"ADVERSÃO" e "ADMEDRONTAR". Não vejo razão para não pronunciar este "D"
quando ainda hoje o pronunciamos em "Admoestar", "Advertir" e
"Advogado". O que você acha?

GM - Scientificamente fallando, em termos de philologia, são coisas
distinctas, a orthographia e a orthoepia. Uma não invade o territorio da
outra, ou seja, não cabe à orthographia dictar regras de pronuncia, e
viceversa, dahi o erro dos phoneticistas ao reformarem a orthographia
querendo imitar a pronuncia, como em "física" e "pronto" para "physica"
e "prompto". A prosodia é dominio popular e suas variações fazem parte
da dynamica da lingua; ja a graphia é dominio lettrado e deve ser,
quando e quanto possivel, normatizada e systematizada. Dahi que, em
Portugal, se falla "aspeto" e "insecto" e, no Brazil, ao contrario,
"aspecto" e "inseto". Ninguem pode interferir nisso, mas cabe à
orthographia fixar a forma mais complexa, "aspecto" e "insecto", pouco
importando si o "C" é mudo ou não, aqui ou alli, tal como o sotaque
vocalico em "fui pégo" ou "fui pêgo", "córação" ou "côração". A propria
palavra "orthoepia" pode ser dicta de duas maneiras, "ortoépia" ou
"ortoepía". Quanto às palavras que você destacca, são justamente
aquellas que, no systema mixto, Machado e Bilac desconsideravam. Só os
etymologistas rigorosos (como eu) as grapham com o "D" mudo, mas nem por
isso alguem deveria pronunciar o "D" de "adventura", ainda que o
pronunciem em "advento". São oscillações da lingua fallada, mas o que
acho fascinante na lingua escripta é justamente essa capacidade de
registrar lettras mudas, como em "augmento" ou "prompto". Concluindo,
fiquemos no terreno da escripta, que ja é um sacco de gattos, sem nos
mettermos na praia da falla, que pertence ao povo. Limitemo-nos a fallar
correctamente nos casos duvidosos, como "parolympico" e "anethico", e
não "paralympico" e "aethico"... Ufa! Isso dá panno p'ra manga, como
você vê nas notas que fiz ao diccionario, mas nunca é demais reaffirmar
taes ponctos.

P - Em relação aos tupinismos e à forma como você, na escripta classica,
os grapha, a duvida é do porquê de graphar: SS antes de A, O e U em
detrimento do Ç, como em ASSAHY, MOSSORÓ e varias outras palavras
formadas pelo suffixo -ASSU; G antes de E, I/Y em vez de J, como em PAGÉ
e MOGY; Y em syllabas tonicas ou em diphthongos/triphthongos em vez de
I, como em TUPY, GUAYCURU, JATAHY e GOYAZ (isso, I por Y, só seria em
tupinismos ou tambem occorre em palavras portuguezas?); E finalmente,
TUPAN e não TUPÃ? Ao ler as antigas grammaticas e catecismos em tupi,
escriptos por varios chronistas da epocha do descobrimento (Anchieta,
Luiz Figueira, Montoya, Antonio de Araujo), essa graphia classica, no
que tange a tupinismos, não é nada "etymologica", pois em nada coaduna
com a appresentada por estes chronistas supracitados, e a simples
mudança de I por Y poderia inserir na palavra uma pronuncia que nunca
existiu entre nossos indios! Veja bem, Anchieta e Luiz Figueira nunca
utilizaram SS, sempre Ç, e ha um motivo por traz disso: o phonema
sibilar surdo [s] nunca existiu em tupi. O que existia era uma fricativa
surda [ts]dahi usar Ç (o cedilha na epocha do descobrimento era
pronunciado TS em portuguez, só virando S muito depois). O Y, por
tradição (começada de forma muito feliz por Montoya) representava uma
vogal faucal inexistente no portuguez muito parescida com o YERY russo,
portanto não poderia ser utilizada na formação de
diphthongos/triphthongos, muito menos em vogaes tonicas como TUPY (esta
graphia, com Y, suggere uma pronuncia que nunca existiu entre os
indios!)

GM - Todas as suas collocações sobre a funcção dos phonemas na
representação escripta dos tupynismos e sua discutivel fidelidade à
pronuncia dos indios, todas ellas teem sua logica e demonstram que você
está bem embasado. Mas insisto neste poncto e peço que repare: tudo isso
recae numa supposta prioridade da phonologia em relação à etymologia,
coisa da qual discordo, ja que taes argumentos só servem ao interesse
dos reformistas que visam "simplificar" palavras como "tupy",
"Jundiahy", "assahy" ou "pagé" para "tupi", "Jundiaí", "açaí" ou "pajé".
Minha suggestão é que você não caia nessa armadilha, pois ella levaria à
acceitação das reformas que transformaram "physica" ou "prompto" em
"física" ou "pronto", como ja referi. No caso dos tupynismos, ser
etymologico não é ser fiel a uma supposta pronuncia indigena e sim
acceitar uma convenção adoptada por escriptores e grammaticos que nos
precederam nos seculos. O facto de que alguns chronistas quinhentistas
tenham tentado registrar phoneticamente um idioma que não tinha escripta
não basta para justificar uma orthographia simplificada, pois a
preoccupação delles era communicar-se com uma população então numerosa a
ser alphabetizada e catechizada. Hoje a unica utilidade dos tupynismos é
practicamente toponymica, zoologica e botanica. Nenhum etymologista deve
estar preoccupado si a graphia dum tupynismo facilita a conversação com
um indio. O que importa é padronizar o vocabulario geographico e
historico brazileiro. Fora disso, minha razão para repudiar a cedilha e
o til em "babassu" ou "Tupan" prende-se mais à minha ogeriza aos
accentos. Si eu puder trocar qualquer accento por uma consoante a mais,
ou simplesmente abolil-o, não hesito. Para mim a peor coisa que existe
numa representação escripta é substituir o pingo do "I" por um accento
agudo, por exemplo. No mais, procuro não "inventar" nada e sigo o que a
litteratura prequarentista ja consolidara. Apenas fixo certos criterios
com maior rigor que o dos auctores oitocentistas. Mas não vou muito
pelos criterios quinhentistas porque elles ainda estavam inseguros e
titubeantes quanto aos impasses entre o portuguez fallado e graphado,
sendo que os classicistas mais criteriosos ja estavam scientes da
dissociação entre pronuncia e escripta. Espero ter deixado claro que sou
radicalmente contra qualquer manobra simplificadora quanto aos
tupynismos e, si necessario, defendo até uma forma artificial (porem
tradicional) como "Nictheroy" em vez da mais logica "Niteroy" (mas nunca
"Niterói"), só para adoptar a alternativa menos simples. Meu negocio é
complicar, emfim. (risos) Você pode concordar ou não, mas sou daquelles
que acham que orthographia não existe para facilitar a vida dos
estudantes... (risos)

P - Na verdade o que eu quiz dizer com repensar a graphia de certos
tupinismos não tem a ver com simplificações que priorizam a phonetica, e
sim collocar lettras em seu devido logar! Veja por exemplo: ASSAHY
ficaria AÇAHI, apenas retiraria o Y e SS, collocando no logar o I e Ç,
sendo mais coherente com a graphia dos antigos grammaticos
quinhentistas(que apesar de graphar a lingua de forma phonetica,
faziam-no de accordo com sua graphia portugueza, de habitos graphicos ja
etymologicos, não?) e tambem oitocentistas(Couto de Magalhães seria um
bom exemplo), mas manteria o H que indica a occlusão glottal que
apparescia nos hiatos do tupi fallado. Mas nem todos os tupinismos
seriam affectados. Perceba que JUNDIAHY permanesceria assim mesmo, pois
está correcto este Y final que era pronunciado como um mixto de I e U,
exprimindo a idéa de "RIO" (Iundiá-Y, rio dos jundiás), assim como
permanesceriam JACAREHY (Iacaré-Y, rio dos jacarés) e PARATY(Parati-Y,
rio dos paratis, um typo de peixe). Mas este Y final jamais poderia ser
collocado em TUPY, isso seria um exemplo de total desconhescimento
"etymologico" da lingua tupi. Da mesma forma que PAGÉ não poderia ser
graphado com G, mas sim com J, sendo esta forma a mais "archaica" e
consolidada pelos grammaticos do tupi, e não mera reducção phonetica,
apenas um retorno a graphias muito mais antigas. O phonema sonoro
sibilar palatizado [j] não existia na lingua tupi, mas sim uma semivogal
"i" que por falsa percepção portugueza se transformou em "j": IACARÉ
virou Jacaré, IAGUARA virou Jaguar, PAIÉ virou Pajé...por isso J (mera
allophonia da approximante palatal 'i', assim como accontesceu no latim)
e não G (este usado somente no phonema velar sonoro). Palavras como
IPEROIG e UBATUBA deveriam ficar IPEROHY e UHUBATYBA (ou UBATYBA).
Quanto a NITEROY, tudo bem, mas NICTHEROY não faz sentido (o mais
correcto a meu ver seria NITEROHY, apesar de suggerir uma pronuncia
oxytona). Portanto não seria um acto phoneticista nem reduccionista
repensar essas graphias, eu continuaria pronunciando a syllaba final de
JACAREHY e TUPI da mesma forma, como a [i], mas numa eu escreveria com Y
e noutra com "I", exactamente por respeitar o character etymologico
dessas palavras, character este estabelescido por convenções
orthographicas adoptadas por escriptores e grammaticos que precederam
não somente a nós, mas tambem a escriptores e grammaticos oitocentistas!
Sei que seria algo realmente radical e que talvez não desse tão certo,
affinal de contas estes toponymos não ficaram assim vindos directamente
do tupi, antes passaram por linguas geraes ja corrompidas pelo portuguez
e outras linguas amerindias não tupi-guaranis, e por essa razão eu até
concordaria com a graphia que você adopta para estes toponymos, mas para
as palavras TUPI e PAJÉ, que não são toponymos e nem termos botanicos, Y
e G seriam inadmissiveis de um poncto de vista logico e historico.

GM - O que accaba sendo illogico e antihistorico é graphar "pagé" com
"J" e Bagé com "G". Si Bagé é um toponymo consagrado pela documentação
historica, mixturar "G" com "J" entre dois vocabulos, só porque um é
toponymo e outro não, isso sim, seria uma incoherencia. Ou se respeita a
tradição escripta, ou estariamos fazendo nossa propria reforma
phonetica. Você fallou que não faz o jogo dos phoneticistas mas está o
tempo todo usando argumentos phonologicos e não historicos. Si a
"percepção portugueza" do tupy era "falsa", paciencia. O que vale é o
que os portuguezes perceberam e registraram, mas mais ainda o que nós
mesmos, brazileiros posoitocentistas, acceitamos la attraz. Si Alencar
graphou "tupy" e "guarany", como Bernardo Guimarães assigna uma obra
intitulada O ELIXIR DO PAGÉ (tudo conferido em edições facsimilares),
não vou discutir com elles, mesmo porque gosto mais do "Y" que do "I" e
sempre que possivel adopto o chamado "I grego". Va por mim e deixe que
os phoneticistas esperneiem à vontade. Resumindo a questão, eu diria que
a orthographia etymologica talvez devesse ser chamada melhor de
orthographia consuetudinaria. Assim evitariamos essas questões
phonologicas que você levanta. Bastaria sabermos que, em determinado
momento, bem anterior ao reformismo novecentista, convencionou-se que
"tupy" e "pagé" seriam graphados desta forma, e poncto. O
conservadorismo que deve prevalescer na cultura escripta bastaria para
assegurar a intangibilidade de taes graphemas. Para mim, mais do que o
character consuetudinario, o que interessa é minha obsessão pela
complexidade orthographica. Quanto mais eu tiver razões para escrever
"Y" em logar de "I" e "G" em logar de "J", ou "PH" em logar de "F", ou
para addicionar um "H", ou para geminar uma consoante, mais
approveitarei taes opportunidades, ainda que a tradição ou o costume me
respaldem mais que a propria etymologia, como em "hontem" por analogia a
"hoje". Si você estiver commigo nessa attitude, seremos mais felizes.
(risos) Si não, você sempre achará argumentos para me contestar, como
occorria muito entre os theoricos prequarentistas. Na verdade, os
reformistas practicamente mactaram o debatte, ao engessar a escripta com
aquelle estupido criterio simplificador.

P - Agora que você explicitou melhor a respeito da graphia dos
tupinismos, que seria muito mais consuetudinaria do que etymologica,
isso basta para finalizar o debatte. Mas, ao ler excerptos de um texto
de Couto de Magalhães, exactamente sobre lingua tupi, fiquei na duvida
na graphia de verbos conjugados na 3ª pessoa do plural do preterito
perfeito e do indicativo futuro (creio que seja isso mesmo, corrija-me
si eu estiver errado): O verbo FICAR, por exemplo, seria graphado
classicamente com -ÃO, tanto no indicativo futuro quanto no preterito
perfeito, ficando FICARÃO, differenciando-se os tempos verbaes por um
mero accento agudo no primeiro A do preterito perfeito: FICÁRÃO.
Correcto? Bem, como você diz que a vogal I jamais recebe accentos, como
differenciar então, verbos como CAHIR, conjugados da mesma forma? Seria
somente pelo contexto, ou neste caso se acceitaria algum diacritico?

GM - Quanto ao verbo "cahir", o "H" differencia o tempo no indicativo do
tempo no subjunctivo, como em "cahia" e "caia". A differenciação entre
preterito e futuro deve ser como o costume indica: "cahiram" e
"cahirão". Eu jamais adoptaria um accento agudo a mais e um til a mais!
Si eu pudesse, eliminaria os dois signaes da lingua escripta!
Infelizmente, não posso, e tenho que acceitar o til pelo menos na
desinencia do futuro... (risos)

P - A orthographia septecentista é um pouco differente da que você
adopta(oitocentista)! Qual o motivo historico dessa divergencia? Não
seria mais "classico" retornar aos septecentistas? Por que levar em
conta somente os oitocentistas?

GM - A questão que você levanta é bem curiosa. Desde o quinhentismo os
raros eruditos foram fixando a graphia mais latinista e hellenica
possivel para o portuguez, mas até o septecentismo a litteratura
lusophona oscillou numa apparente bagunça orthographica e só no seculo
XIX houve maior consolidação. São varias as razões, tanto em Portugal
quanto no Brazil, que (convem lembrar) fez parte da cultura lusa até
principios dos oitocentos. Portugal esteve sob dominio hespanhol
(dynastia filippina, ou philippina, por signal), o que attrapalhou a
solidez orthographica do idioma. Basta notar que a cidade de São João
del Rey deveria se chamar São João do Rei. Mais tarde, a influencia
franceza adjudou a restabelescer o padrão classico, mas a proporção de
alphabetizados e, por tabella, de universitarios, era tão infima que
qualquer coisa escripta por um lettrado valia como parametro de norma
grammatical. Só com a disseminação das faculdades foi que a lingua
deixou de ser terreno de leigos ou autodidactas para tornar-se mais
disciplinada. Note que o diccionario de Aulete (do qual tenho a edição
original encadernada mas existe versão escaneada na internet) data de
1881. Mesmo assim, muita coisa só ficou definida no começo do seculo XX,
justamente na hora em que os opportunistas vieram com aquella onda de
reformas. Em summa, si você comparar um Claudio Manuel da Costa ou um
Thomaz Antonio Gonzaga com um Alencar ou um Machado, certamente vae
achar differenças. E si comparar a minha litteratura com a de Machado,
achará outras tantas! (risos descarados) Eu mesmo extranhei quando
confrontei minha escripta com a de Gregorio de Mattos e a de Bocage,
meus antecessores na poesia fescennina. Mas isso faz parte do dynamismo
da lingua, ainda que, no caso orthographico, a escripta caminhe na
direcção opposta à da liberdade fallada... Pelo menos eu acho que deve
caminhar na mão contraria, sinão logo estariamos escrevendo "vambora,
mermão" ou coisa que o valha... (risos) Emfim, o seculo XIX, alem de ter
sido mais desenvolvimentista em todos os sentidos, foi o auge da
consolidação das litteraturas nacionaes, tanto na Europa quanto aqui,
quando os indianistas (Alencar e Gonçalves Dias, principalmente) tambem
consolidaram a graphia dos tupynismos, ainda que, em alguns casos,
sobrassem indefinições.

P - Mas, como você mesmo escreve, ainda ha differenças entre um Machado
ou Alencar e você proprio, pelo facto de você eliminar alguns resquicios
da chamada graphia mixta, sendo um pouco mais rigoroso
etymologicamente...por que esse rigorismo não se extende a algumas
palavras como "Majestade" e Ojeriza"? Por que em algumas palavras impera
o character consuetudinario e noutras um maior rigor etymologico? Qual
criterio utilizado para isso?

GM - Quanto aos termos "ogeriza" (variante de "geriza") e "magestade"
(do latim), minha preferencia pelo "G" tem plena base, como aliaz ja
commentei no blog. Nessa questão do systema mixto, não me tornei
rigoroso da noite para o dia, mas fui apprimorando os criterios durante
a preparação do diccionario. Dahi porque alguns de meus livros estão no
systema mixto e só os mais recentes saem como escrevo agora.

P - Você transcreveu: {No latim, onde o "G" era sempre guttural, a
pronuncia orientava a graphia.} Bem, vale lembrar que não foi sempre
assim! O "G" era "sempre" guttural do seculo II antes de Christo até a
primeira metade do seculo V depois de Christo, consolidando depois disso
um valor phonetico(resultado de uma mudança que ja vinha occorrendo
naturalmente) de uma linguodental sonora palatizada antes de E, I e
Y(como é hoje no italiano). Inclusive a pronuncia official do latim da
liturgia catholica é exactamente assim, não por influencia do italiano,
mas porque é o mais proximo do latim do seculo V em deante(o italiano
tem determinada pronuncia hoje por influencia do proprio latim, não o
contrario). Ora, o "J" latino nunca teve e nem tem ainda hoje o som do
nosso "J", e sim do "I" atono como semivogal(isto ainda é ensignado na
pronuncia de hoje do latim, a pronuncia official do Vaticano, chamada de
pronuncia romana). Claro que occorrem pronuncias vernaculas(que nada
mais são que o latim pronunciado errado) taes como as que se ensignam(ou
ensignavam) aqui em nosso paiz aos estudantes de Direito, por exemplo,
em que JUSTITIA e MUSCAE se pronunciam JUSTÍCIA e MUCE(pronuncia chamada
de "tradicional" por Napoleão Mendes de Almeida). Não sei qual pronuncia
de latim você apprendeu, mas o que quero dizer com tudo isso, é que o
"G" de MAGIS (fallado MÁDGIS), foi graphado assim para não se perder o
"I" semivocalico que antecedia a vogal de valor phonetico egual, um
outro "I". Onde havia vogal posterior differente de "I", ou seja,
differente do radical primitivo "MAI", este "I" final do radical era
graphado "J", mas pronunciado como "I": MAJOR( MÁIOR), MAJESTAS,
MAJESTATIS( MAIÉSTAS, MAIESTÁTIS)! Concluindo: o J só virava G antes de
I, para não se perder na pronuncia. Portanto não ha confusão alguma
nascida no "proprio latim", e o exemplo "MAJISTRAL" de Nogueira é
infundado, pois é resultado de um criterio phonetico do portuguez, ja
que esta graphia no latim implicaria numa pronuncia que nunca existiu em
tal lingua: MAIISTRAL...ora, mas quem sou eu para corrigir o conceituado
professor Julio Nogueira... {Em portuguez, porem, o "G" anterior a "E",
"I", "Y" teve o mesmo valor de "J"} Isso seria applicar um criterio
phonetico de nossa propria lingua para graphal-a, não um criterio
etymologico! Você escreve que o "J" só se impõe onde corresponde ao "I",
mas elle corresponde exactamente ao "I" em MAJESTADE, assim como em
MAJOR e MAJORITARIO! Mas tudo bem, pois estou comtigo na graphia
MAGESTADE pelo character consuetudinario da escripta, independente si é
ou não errado etymologicamente. O que quero deixar claro nisso tudo é
que não vi nada alem da mais pura tradição, ja fundamentada no erro
advindo da graphia phonetica do quinhentismo, para justificar a graphia
MAGESTADE(e é claro, sua obsessão em collocar G no logar de J sempre que
possivel, conforme você mesmo escreveu). E exactamente por priorizar o
character consuetudinario da lingua em vez do etymologico, que discordo
de você na graphia "JEITO", preferindo graphar com "G"!

GM - Você está entendendo o "espirito da coisa": por mais que os
philologos discutam pronuncias, historica ou geographicamente, o que
vale é o costume arraigado. No fundo, o que chamamos "etymologico" é
isso: mais pragmatismo consuetudinario que propriamente scientificismo
phonologico, e assim accabamos concluindo que tambem nós, rigoristas,
adoptamos nossa forma de systema "mixto", só que com mais complexidade
em vez da simplicidade pretendida pelos reformistas. Meio subtil para os
leigos entenderem, mas você não é um mero leigo, logo está captando
minhas intenções. Si considerarmos que cada um daquelles theoricos
prequarentistas tinha liberdade para propor suas preferencias e
credibilidade para serem todos accaptados, posso eu tambem me julgar
sufficientemente auctorizado a propor minha preferencia pelo "G", menos
em "geito", não concorda? (risos) O importante é que quaesquer
divergencias se circumscrevem a poucas palavras e que, no geral, todos
nós, rigoristas, escrevemos na mesma orthographia, de matriz latina ou
grega consensual... Em dois aspectos sou mais rigoroso que os auctores
oitocentistas: primeiro, quanto aos verbos inchoativos (terminados em
"ecer" ou "escer", que unifico para "escer", inclusive "conhescer",
"merescer" e "parescer"); segundo, quanto aos verbos approximativos
(começados com assimilação ou não do prefixo "ad", que unifico como em
"approvar" e "approveitar", "advertir" e "advistar"). No systema mixto,
havia a duplicidade entre "accrescer" e "adoecer" (para mim,
"addoescer") ou entre "approvar" e "aproveitar" (para mim,
"approveitar") e você pode achar taes differenças no meu diccionario
quando uso "ou" para duas alternativas. Si você ficar com a mais
simples, está proximo da escripta oitocentista. Na maioria dos casos,
porem, a etymologia dicta as regras para lettras geminadas e outros
graphemas, seja o systema mixto ou rigoroso.

P - Lendo uns textos oitocentistas notei a utilização do accento agudo
para indicar crase, então gostaria de saber mais a respeito. Antigamente
se utilizava somente o agudo e só depois da reforma de 1943 é que entrou
na orthographia o accento grave, ou eram utilizados os dois diacriticos
de accordo com o gosto do escriptor? Qual você adopta e por quê?

GM - Antes da reforma usava-se o agudo para indicar a crase, sim. Ja
tractei deste poncto em outras opportunidades, mas vale voltar ao
assumpto. Dei preferencia à crase por opção minha, pois actualmente o
uso do agudo ficou muito ligado à funcção phonetica, como em "às" (a+a)
para differenciar de "ás" (campeão), dahi que, mesmo adoptando a forma
"az" como substantivo, acceitei "às" para a crase. Mas tambem acho
logico o emprego do agudo, como usavam os oitocentistas. Abbaixo copio o
que ja escrevi a respeito.

{A proposito dos commentarios que este blog recebeu dum attento "anonymo
do outro lado do oceano" (vale dizer de Portugal), quero aggradescer as
pertinentes observações. Respondo que adoptei a crase com grave ("à",
"àquillo") em logar do agudo e supprimi o apostropho ("nelle" e "disso"
em logar de "n'elle" e "d'isso") porque não ha consenso no emprego de
taes notações e porque adopto o criterio da minima accentuação, pelo
qual o agudo ja é uma excrescencia, apenas toleravel em alguns
oxytonos.}

P - Você ja me respondeu que não havia regras officiaes que regulassem a
escripta pré-quarentista, somente recommendações de lexicographos e
grammaticos, correcto? Esses grammaticos e diccionarios ja
recommendavam, por exemplo, essa "unificação" que você faz com os verbos
inchoativos e approximativos? Isso ja era recommendado no Aulete de
1881, por exemplo, ou é algo que você proprio deduziu respaldado, é
claro, num scientificismo etymologico muito bem embasado? Pergunto isso
porque, caso esses grammaticos e lexicographos oitocentistas ja
recommendassem esse rigor etymologico naquella epocha(por mais que
Machado e Bilac, por exemplo, não o utilizassem), podemos então concluir
que inexoravelmente, caso a escripta do portuguez não soffresse aquelle
descalabro total que foi a "reforma" de 1943, hoje a graphia seria a
mesma utilizada por você, concorda?

GM - Exactamente. O uso da opção "mais simples" prequarentista só vale
naquelles dois casos verbaes: AD=A e ECER=ESCER. Não havendo regras
officiaes para o systema mixto, cada philologo ou grammatico dava sua
contribuição recommendando algo, e eu dou a minha agora, unificando os
dois casos em AD e ESCER. Assim collaboro para "etymologizar" o que era
mixto. (risos)

P - Si, antes de 1943, não havia normas officiaes que regulassem a
escripta de nossa lingua, somente recommendações de diccionarios e
grammaticos, quaes seriam estes diccionarios e grammaticos que, no seu
poncto de vista, seriam os mais coesos para que eu approfundasse meus
estudos da "eugraphia" portugueza? Gostaria de eu proprio chegar às
mesmas conclusões que você chegou (primeiro pelo proprio estudo da
graphia classica que é um grande deleite intellectual para mim, e
segundo porque isso enriquesceria muito meu vocabulario), então, alem do
Aulete de 1881 que você ja citou, e o seu proprio diccionario, é claro,
haveria algum outro tão importante quanto, que deveria ser levado em
conta? E quanto aos grammaticos, quaes deveriam ser levados em conta?

GM - Indiquei no proprio diccionario as fontes mais importantes porque
as demais são mera redundancia. No caso das grammaticas, são innumeros
os compendios escholares das primeiras decadas do seculo XX, todos
influenciados por Eduardo Carlos Pereira e por Ernesto Carneiro Ribeiro.
No caso dos diccionarios, idem. O do Candido de Figueiredo, por exemplo,
nada accrescenta ao Lello ou ao Aulete. Para você, bastaria um Houaiss,
que tem até edição virtual, pois elle dá inclusive as formas historicas
divergentes da etymologia.

P - Você saberia me dizer si houve alguma tentativa de regulamentação da
grammatica e da escripta por parte de Machado de Assis e outros
immortaes quando foi fundada a nossa,hoje decadente, Academia Brazileira
de Lettras? Pois ja que a ABL foi fundada nos moldes da Academia
Franceza, penso que um dos propositos tenha sido o da regulamentação da
lingua escripta, tal como era naquella epocha, mas não encontro essa
informação. Poderia você me dizer si houve essa regulamentação e no que
ella consistia e como reagiu ao descalabro da graphia de 1943?

GM - Nenhuma regulamentação, que eu conhesça, partiu da ABL ao tempo de
sua fundação. Os primeiros academicos, a exemplo de Machado, só estavam
preoccupados em "immortalizarem-se". Gosto muito do Machado, mas elle
tinha seu lado vaidoso e moralista, impedindo, por exemplo, a entrada de
Emilio de Menezes na ABL por causa da vida bohemia e da poesia
desboccada. Mas o merito daquelles academicos era que, pelo menos, elles
barravam tambem quem não fosse escriptor. Ja na dictadura getulista foi
que os escriptores puxasaccos passaram a eleger politicos, a começar
pelo proprio Getulio, que lhes cedeu o terreno e o predio da ABL em
troca da cadeira. Desde então a ABL virou um antro de puxasaquismo. Pois
foi na epocha do Getulio que os opportunistas resolveram mexer na
orthographia, ja que um simples decreto do dictador lhes propiciaria
vender novas grammaticas e diccionarios, unica finalidade practica da
tal reforma. Machado, creio, não desceria a tal poncto. Elle tinha
orgulho, por si e pelos collegas, do officio de escriptor... (risos)

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sábado, 10 de janeiro de 2015

JANEIRO/2015: HIBERNAÇÃO DE VERÃO


A partir deste mez, o blog ficará hibernando, sem receber novas
actualizações mensaes, mas Glauco Mattoso continuará attendendo aos
emails com questionamentos e/ou pedidos de copias digitaes do
DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO. O contacto é o de sempre:


mattosog@gmail.com