sábado, 10 de maio de 2014

MAIO/2014: O REI REINA E REGE COM MAGESTADE

Um attento leitor chamado Geronymo acha que seu nome foi incorrectamente
registrado e que devia ser Jeronymo. Scismado com o emprego do "G" pelo
"J" na antiga orthographia, elle me interpella: "Por que tu graphas
MAGESTADE com 'G' e evitas escrever GEITO, AGEITAR, DESAGEITADO, etc.?
Não são erroneas ambas as formas? O facto de serem taes palavras assim
graphadas por tradição seria sufficiente para as legitimar?"

Excellente questão, que merece exame mais detido. Quando optei pela
forma MAGESTADE, não me respaldei só na tradição. Primeiro considerei o
que commentou Julio Nogueira no MANUAL ORTHOGRAPHICO BRASILEIRO, que
transcrevo entre chaves:

{Em algumas palavras os motivos de confusão entre o "G" e o "J" ja
vieram do latim. Assim que ao lado de MAGIS, MAGISTER encontram-se as
graphias MAJOR, MAJESTAS, palavras corradicaes. Dahi a indecisão
graphica do portuguez: MAGESTADE - MAJESTADE. No latim, onde o "G" era
sempre guttural, a pronuncia orientava a graphia. Em portuguez, porem, o
"G" anterior a "E", "I", "Y" teve o mesmo valor de "J" e, assim,
MAJESTADE - MAGESTADE são representações perfeitas. Como resolver,
então, o problema? A uniformização seria difficilmente acceita.
MAJESTADE, que é a melhor graphia, não seria recusada pelos que escrevem
MAGESTADE; raros, porem, se conformariam com MAJISTRAL. O melhor,
pensamos, será appoiar-se na graphia das palavras correspondentes no
latim, a que cabem as culpas, donde MAJESTADE, MAJESTOSO, ao lado de
MAGICO, MAGISTRADO, MAGISTRAL, MAGISTERIO.}

Ora, adduzo eu, succede que o "J" só se impõe quando corresponde ao "I",
como em MAIOR, MAIORIDADE, MAJOR, MAJORITARIO. Fora disso, julgo que o
"G" se colloca mais de accordo com a maioria dos cognatos, como em
MAGESTADE, MAGISTRADO, alem de respeitar o costume arraigado em
portuguez, sem fallar que o "G" se recommenda em situações analogas,
como LAGE ou PAGEM. Adopto, pois, MAGESTADE, a despeito do inglez
MAJESTY ou do francez MAJESTÉ.

Quanto ao "G" em GEITO, creio que fica desajeitado, pois todos os
cognatos são com "J", como JACTO, JACTANCIA, DEJECTO, INJECTAVEL,
PROJECTO ou SUJEITO. Dahi minha opção pela forma JEITO, a despeito da
tradição vernacula.

Essa margem de duvida serve, entretanto, para evidenciar que a matriz
latina nem sempre é absoluta na formação da matriz vernacula
conservadora. Por exemplo, HOJE viria de HOC DIE, emquanto HONTEM viria
de AD NOCTEM. A rigor, deveria ser HOJE e "ANNOITE", mas, ja que a forma
actual perdeu o prefixo "AD", manda a tradição que HONTEM siga HOJE por
analogia, como occorre com AFFIM, AFFINIDADE e AFFINAL. Qualquer
proposta que elimine o "H" deve ser entendida como manobra reformista e
repudiada pelos etymologistas convictos.

Envie sua questão a mattosog@gmail.com ou seu pedido para receber uma
copia digital do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO de Glauco Mattoso.

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