sábado, 21 de dezembro de 2013

DEZEMBRO/2013: ANECDOTAS PORTUGUEZAS

Recebi novo commentario de Portugal, assignado por Hyperião (que se
identifica com o "anonymo do outro lado do Atlantico" mas não se
confunde com o Cavallo Doudo, que é bahiano) questionando-me sobre
ponctos discutidos pelos reformistas daqui e dalli. Bem, antes de tudo
entendo que duvidas accerca de termos simplificados nem seriam da minha
alçada, ja que a simplificação interessa aos phoneticistas e sou
etymologista por principio. Mas commentarei as seguintes questões.


Quanto ao hyphen, nunca houve (nem precisa haver) norma rigida. Tal como
no inglez (que admitte WEEK END, WEEK-END e até WEEKEND), fica a
criterio do escriptor "costurar" ou não expressões substantivadas (como
FIM DE SEMANA, PONCTO DE VISTA, MESA DE PÉ DE GALLO, OCULO DE VER AO
LONGE ou MADEIRA DE DAR EM DOIDO) utilizando hyphens. De minha parte,
prefiro dispensar o tracinho. O que não dá para acceitar é que se
officialize o hyphen numa expressão como LOGAR COMMUM e se prohiba seu
uso em PHRASE FEITA, ou vice-versa, ou VICE VERSA, ou VICEVERSA. Sempre
cabe, comtudo, um criterio pessoal que presupponha coherencia: si
escrevo BEMQUISTO, BEMVINDO e BEMADVENTURADO, preferirei BEMESTAR a
BEM-ESTAR ou BEM ESTAR. Em summa, hyphens só deveriam ser obrigatorios
em casos inequivocos, como nas mesoclises e enclises: USA-SE, USAR-SE-A.
Suggiro a consulta ao topico 4.6 do appendice ao meu DICCIONARIO
ORTHOGRAPHICO, cuja integra me disponho a enviar a quem quizer
solicital-a via mattosog@gmail.com


Quanto às iniciaes maiusculas em estações do anno ou em mezes, que para
os inglezes são necessarias e para alguns portuguezes tambem, eu
considero que deveriam ser facultativas. Empregal-as, ou não, é algo que
não compromette a clareza. A rigor, maiusculas são necessarias apenas em
nomes proprios ou quando o escriptor quer ennobrecer ou symbolizar um
substantivo, como a "Moral" ou o "Peccado".


Quanto ao accento diacritico em PARA (preposição) para differencial-a do
verbo PARAR na terceira pessoa do presente do indicativo, como em FORMA
(molde) para differenciar de FORMA (maneira), sei que a desaccentuação
pode confundir, mas, por principio, continuo convicto de que o contexto
deve esclarecer o sentido, tal como no caso lembrado pelo Hyperião, da
"secretaria da secretaria". Não é o caso de KAGADO e CAGADO, onde a
etymologia evita o malentendido (ou o MAL-ENTENDIDO, ou o MAL
ENTENDIDO).


Quanto às simplificações radicaes propostas por alguns charlatães daqui
a collegas portuguezes (como "jirafa", "xamar" ou "múzica"), nem posso
commentar, pois aqui ja se tracta de divergencia entre phoneticistas.
Meu intento é complexificar, não simplificar. Si verifico que o nome
scientifico da giraffa leva "F" duplo, jamais perco essa opportunidade
de adoptar tal graphia. Alem do mais, por principio evito o "J" quando
posso usar "G", a exemplo de GILÓ ou GIBOYA, como prescrevo no topico
2.2.2 do DICCIONARIO ORTHOGRAPHICO.


E continuo achando, meu caro Hyperião, que a desaccentuação do systema
etymologico mais approximaria que afastaria portuguezes de brasileiros,
pois escrevo COMICO sem agudo nem circumflexo, conciliando as pronuncias
daquem ou dalem Atlantico. Para que differenciar um PENIS circumciso,
digo, circumflexo, dum PENIS bicudo, digo, agudo, si ambos teem as
mesmas funcções mictorias, ejaculatorias, masturbatorias ou...
introductorias?


Ah, suggiro o email (ou E-MAIL) mattosog@gmail.com para proseguirmos num
dialogo mais fecundo e profundo, como no caso do Cavallo Doudo.


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sábado, 7 de dezembro de 2013

DEZEMBRO/2013: CALIBRANDO O "RETROMETRO"


Meu attento leitor, que por email se assigna "Cavallo Doudo" ou
"Doudivanas Retardado", questiona-me accerca de "dous themas": si
escrevo PERGUNTAR ou PREGUNTAR (do latim PRAECUNTARE ou de PERCONTARE)
e, si escrevo LOGAR em vez de "lugar", por que acceito ALUGAR, si o
etymo latino é o mesmo LOCALIS/LOCARE em ambos os casos.

Preliminarmente, observo que elle adopta as formas "cousa", "doudo" ou
"dous" sempre com "U", mas tal uso (assim como a inversa tendencia em
"oiro", "doirado" ou "toicinho") não tem relação com graphias reformadas
ou não, tractando-se de mero costume daquem ou dalem Atlantico. Ja
formas como "palabra" ou "libro" (que elle emprega insistentemente)
seriam opções archaizantes demais e soariam como hespanholismos em vez
de latinismos. Por isso não as endosso.

O importante, meu hippico e agalopado amigo, é que tenhamos em vista o
character consuetudinario e, tanto quanto possivel, corrente do idioma
escripto. Assim, si coexistem o latim vulgar PRAECUNTARE e o classico
PERCONTARE, tanto quanto coexistem o portuguez popular/regional
PREGUNTAR e o erudito PERGUNTAR, valem ambas as formas, cada qual no seu
contexto, colloquial ou litterario, respectivamente. Obvio que, num
texto formal, uso PERGUNTAR e, num discurso dialectal, admitto
PREGUNTAR. Em summa, não são formas excludentes.

Quanto a LOGAR e ALUGAR, pauto-me pelo uso prequarentista: era LOGAR
antes da reforma phonetica e, como ha o verbo ALOCAR com differente
sentido, parece-me preferivel não rigorizar uma forma como "allogar" (do
latim ALLOCARE), que geraria confusão e collidiria com o ja consagrado
substantivo ALUGUEL. Mantenho, pois, o substantivo LOGAR (coherente com
LOCAL) e o verbo ALUGAR (coexistindo com SUBLOCAR e com LOCATARIO),
conforme a praxe vigente na phase etymologica.

Não se tracta de procedimento incommum, aliaz, pois frequentemente
occorrem casos de coexistencia entre formas complexas e simplificadas,
como, ao lado das graphias SIGNO e ASSIGNATURA, as graphias ENSINO e
SINA. O que não posso acceitar é a phonetização forçada que reduziu
artificialmente as graphias de SIGNAL para "sinal" ou de ASSIGNATURA
para "assinatura". Não importa si o "G" soa ou não na pronuncia. Importa
a tradição escripta.

Apenas quando necessario eu forço, na direcção inversa, uma
etymologização, como em SANCTO ou EXGOTTAR, pois nesses casos a matriz
latina é inequivoca e independe de variantes cognatas. Como procedimento
padrão, considero que devemos recuar, na medida sufficiente, até phases
bem remotas, para a fixação da forma historica mais complexa (como em
HONTEM ou CONTEHUDO) e de etymologismos mais rigorosos (como em EXEMPTO
ou EXCAPPAR), mas, simultaneamente, temos que avançar quanto possivel
até formas mais contemporaneas do fallar actual (como em CYBERESPAÇO,
ECOSYSTEMA ou ULTRASONOGRAPHIA [de SOM]), desde que a contemporaneidade
não implique na simplificação pretendida pelos phoneticistas (como em
"sonoterapia" ou "nanotecnologia", cuja forma correcta é SOMNOTHERAPIA
[de SOMNO] e NANNOTECHNOLOGIA, respectivamente). Por isso não vejo
necessidade de desabbreviar formas compactas como VOCÊ (de "Vossa Mercê"
ou "vosmecê") ou de usar apostropho em DISTO ou NAQUILLO. Apenas por
precaução uso apostropho em P'RA ou M'O (me+o), pois algum revisor pode
ficar temptado a "corrigir" P'RA para "para" ou M'O para "me",
prejudicando a metrica dum verso ou o sentido duma phrase como "Estou
puto p'ra caralho" (redondilha maior) ou "Para ser escravo, elle m'o
vendeu" (opposto de "elle me vendeu"). Em taes casos, o apostropho
previne pés quebrados e amphibologias.

Duvidas, velhas e novas, sempre surgirão. Deter-nos-emos nellas assim
que o Doudivanas e o Doidivanas m'as encaminharem. Até a proxima!

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