sábado, 16 de novembro de 2013

NOVEMBRO/2013: COMMENTANDO UNS COMMENTARIOS

A proposito dos commentarios que este blog recebeu dum attento "anonymo
do outro lado do oceano" (vale dizer de Portugal), quero agradecer as
pertinentes observações. Respondo que adoptei a crase ("à", "àquillo")
em logar do agudo e supprimi o apostropho ("nelle" e "disso" em logar de
"n'elle" e "d'isso") porque não ha consenso no emprego de taes notações
e porque adopto o criterio da minima accentuação, pelo qual o agudo ja é
uma excrescencia, apenas toleravel em alguns oxytonos. Quanto ao Caldas
Aulete e a outros diccionarios, são referencias importantes, mas posso
divergir delles sempre que a coherencia e o rigor etymologico me
suggerirem differentes graphemas. Ainda a proposito de diccionarios,
aproveito para informar que ja tenho disponivel meu DICCIONARIO
ORTHOGRAPHICO PHONETICO/ETYMOLOGICO, fructo precisamente dos estudos
philologicos que venho registrando neste blog. Emquanto não o publico em
livro, disponho-me a envial-o por email a quem solicitar. Basta que
façam o pedido ao mattosog@gmail.com e terei prazer em attender a todos.
Tambem responderei com gosto a quem quizer questionar-me accerca destes
assumptos. Mais uma vez, muito obrigado pelo enthusiastico apoio que me
chega de Portugal. [Glauco Mattoso]

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NOVEMBRO/2013: "LATIM TUPYNIQUIM, A MIM AFFIM"

Primario, secundario, basico, medio... Ja nem sei qual nomenclatura
vigora para as etapas do ensino antes da universidade. Tudo que sei é
que a unica coisa que não mudou foi o nome dado ao ensino "superior".
Tenho a exacta noção de ja ser "edoso" justamente por causa da
nomenclatura então vigente nos onze annos de escholaridade que
precederam meu vestibular: quattro de primario, quattro de gymnasial e
trez de collegial, ou antes, de classico, pois o curso collegial se
dividia em "classico" para humanas e "scientifico" para exactas.

Alem de excappar da physica e da chimica (nunca me dei bem com
mathematica), a vantagem de fazer o classico era apprender latim e
philosophia. O latim não me foi util apenas na hora de cursar lettras
vernaculas na faculdade, mas principalmente na hora de estudar e de
entender esta orthographia em que escrevo. Por ironia, o latim até me
ajudou a assimilar a graphia dos tupynismos na lingua portugueza, graças
a uma versão do Hymno Nacional que vinha no compendio adoptado.
Assignada pelo professor Mendes de Aguiar, a versão era a que abaixo
transcrevo.


HYMNUS BRASILIENSIS

(I)

Audierunt Ypirangae ripae placidae
Heroicae gentis validum clamorem,
Solisque libertatis flammae fulgidae
Sparsere Patriae in caelos tum fulgorem.

Pignus vero aequalitatis
Possidere si potuimus brachio forti,
Almo gremio en libertatis
Audens sese offert ipsi pectus morti!

O cara Patria,
Amoris atria,
Salve! Salve!

Brasilia, somnium tensum, flamma vivida
Amorem ferens spemque ad orbis claustrum,
Si pulchri caeli alacritate limpida,
Splendescit almum fulgens, Crucis plaustrum.

Ex propria gigas positus natura,
Impavida, fortisque, ingensque moles,
Te magnam praevidebunt jam futura.

Tellus dilecta,
Inter similia,
Arva, Brasilia,
Es Patria electa!
Natorum parens alma es inter lilia,
Patria cara,
Brasilia!

(II)

In cunis semper strata mire splendidis,
Sonante mari, caeli albo profundi,
Effulges, o Brasilia, flos Americae,
A sole irradiata Novi Mundi!

Ceterisque in orbe plagis
Tui rident agri florum ditiores;
"Tenent silvae en vitam magis,
Magis tenet tuo sinu vita amores".

O cara Patria,
Amoris atria,
Salve! Salve!

Brasilia, aeterni amoris fiat symbolum,
Quod affers tecum labarum stellatum,
En dicat aurea viridisque flammula
- Ventura pax decusque superatum.

Si vero tollis Themis clavam fortem,
Non filios tu videbis vacillantes,
Aut, in amando te, timentes mortem.

Tellus dilecta,
Inter similia,
Arva, Brasilia,
Es Patria electa!
Natorum parens alma es inter lilia,
Patria cara,
Brasilia!


Sem fallar dos latinismos propriamente dictos e, por tabella, de alguns
hellenismos coexistentes, a primeira palavra que me chamou a attenção
foi "Ypiranga" com "Y", não pela forma genitiva "Ypirangae", mas pela
fixação do tupynismo. Percebem o que isso significa? Si o latim
preservava graphemas como "somnium", "flamma", "symbolum" ou "Themis"
como uma chancella de authenticidade e, ao lado de taes etymos, um
tupynismo com "Y", nada mais inequivoco para garantir a legitimidade de
graphemas como "tupy", "tamoyo", "tapuya", "Curityba", "Parahyba" ou
"Piauhy". Dahi a corroborar tal graphia na toponymia, foi um passo.
Assim me compenetrei da necessidade de luctar contra as predadoras
reformas orthographicas que, tal como occorre com a matta nativa do
nosso Pindorama, devastaram a flora original e natural que, desde o
GUARANY de Alencar ou os TIMBYRAS de Gonçalves Dias, vinha sendo
preservada pelos escriptores e grammaticos.

Caso os nomes scientificos da propria flora (cuja lingua official é o
latim) incorporassem os tupynismos originaes, com certeza preservariam a
graphia tradicional. Assim, teriamos, em logar de "euterpe oleracea",
"licania tomentosa", "myrciaria cauliflora", "copaifera officinalis",
"ocotea porosa" e "cheilanthes radiata", nomes como "assahy oleracea",
"oyty tomentosa", "jabotycaba cauliflora", "copahyba officinalis",
"ocotea imbuya" ou "samambaya radiata".

Ja tive opportunidade de commentar o papel dos nomes geographicos na
preservação da graphia tupynica, bem como a importancia do orgulho
regional na defesa da Bahia contra "Baía" ou de Bagé contra "Bajé". Cabe
accrescentar, ainda, que algumas localidades correm o risco de perder de
memoria as formas correctas de Cresciuma, Chapecó, Biguassu, Camborihu
ou Itajahy (para citar apenas toponymos catharinenses) si nenhum de seus
habitantes batter pé contra as horrorosas formas "Criciúma", "Xapecó",
"Biguaçu", "Camboriú" ou "Itajaí".

Foi para illustrar essa gloriosa memoria que fiz o soneto abaixo.


SONETO PARA O PARAHYBANO UFANO [3082]

Emfim, a conclusão que a gente tira
da nossa toponymia é que o tupy
até que era phonetico: "Mogy",
"Guassu", "Tupan", "Bagé", "Jahu", "Jandyra"...

Na tonica, vae ypsilon, que vira
um simples "I" quando atono: si eu li
"Timbyra", "Curityba" ou "Piauhy",
li certo, e em "Piracaya" é "peixe" o "pyra"...

Mas como? É "pira" ou "pyra"? Alem do grego
(alli "pyra" foi "fogo"), tambem tem
um "pyra" no tupy? Nesta eu fui pego!

Mas do parahybano não ha quem
subtraia seu hiato, pois o emprego
do "H" será por seculos, amen!

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