sábado, 18 de maio de 2013

JANEIRO A DEZEMBRO DE 2009


DEZEMBRO/2009: "GRAECUM EST, NON LEGITUR"

O dictado latino que dá titulo a este capitulo dá tambem uma idéa de
como Roma encarava os alphabetos extrangeiros. Dahi a expressão "isto
para mim é grego", no sentido de inintelligivel.

Com effeito, o latim fallado e escripto absorveu innumeros hellenismos,
principalmente no que tange aos ramos mais eruditos do latim
ecclesiastico e scientifico, mas nem todas as lettras gregas podiam ser,
digamos, litteralmente translitteradas, para sermos necessariamente
pleonasticos.

Por exemplo, o "phi", equivalente ao nosso "F", precisou de duas lettras
para represental-o, de modo que não fosse confundido com a consoante
eventualmente dobrada das palavras typicamente latinas. Assim, "officio"
tem clara origem latina, emquanto "ophidio" vem do grego; "effectivo" e
"ephemero" se differenciam da mesma forma.

Outros phonemas que, no portuguez, acabaram soando practicamente da
mesma maneira são o "CH" grego e o "QU" latino, que entretanto não se
confundem, como não se confundiam na pronuncia original. Assim, um nariz
"aquilino" vem da aguia latina, emquanto um calcanhar "achilleu" vem do
grego Achilles. No latim, a vogal "U" soava tanto em "aqueducto" quanto
em "aquatico", emquanto "ecchymose" jamais soaria como "equinoccio".

Mais confusos são os nossos dois sons de "I" e os dois de "T" do
alphabeto grego, correspondentes, respectivamente, às lettras iota
comparada com ypsilon (originalmente upsilon), dum lado, e tau comparada
com theta, do outro. Dahi a coexistencia, no portuguez, dos radicaes
"philo" e "phyllo", que os phoneticistas reduziram, indevidamente, a um
unico "filo". Assim, um animal "phyllophago" é o que se alimenta de
folhas vegetaes, emquanto um animal "philosopho" se alimenta,
figuradamente, de folhas impressas. Pelo mesmo caminho, um ser
"aletophyto" é apenas uma planta errante, emquanto um ser "alethophilo"
é uma pessoa em busca da verdade. Um "podophilo" jamais se confunde com
um "podophyllo", mesmo que o fetichista em questão seja um botanico...

Por ahi se vê como a orthographia etymologica é fundamental para
sabermos differenciar um texto "eschatologico" (philosophico) dum texto
meramente "escatologico" (fecal), ainda que, no fundo, seja tudo a mesma
merda. Quem tem practica não troca as bolas na hora de descrever a cor
da crista do gallo, a transparencia do coppo de crystal e os espinhos da
coroa de Christo...

O importante é conhecer os radicaes gregos, que, a rigor, não se
mixturam com os latinos, excepto nos hybridismos. Assim, tanto pode
haver um "T" como um "TH" em palavra originalmente grega, a exemplo de
"necroterio" (onde o "terio" significa "logar") e em "megatherio" (onde
o "therio" significa "fera"), bem como inexiste o "F" em palavra
typicamente grega, como "phosphoro", "photographo" ou "philosopho". No
caso de "chloroformio", "hyposufficiente", "gypsifero" ou "hydrofugo", o
segundo elemento é latino, characterizando o hybridismo.

Si todos usassemos o systema etymologico, ficaria mais facil de entender
uma lettra como a da canção "Lingua", de Caetano, quando elle compara os
termos "patria", "matria" e "phratria", sendo os dois primeiros latinos
e o terceiro grego, este significando "tribu" e trocadilhando com o
sentido latino da fraternidade. O hybridismo intencional ficaria mais
claro si graphassemos correctamente os hellenismos "hippodromo" e
"hypothese", onde "hippo" significa "cavallo" e "hypo" significa
"abaixo". Em hypothese nenhuma alguem mixturaria um termo de origem afro
como "samba" e um grego como "dromo", mas o brasileiro,
anthropophagicamente, consegue transformar um valor cultural
afrodescendente em aphrodisiaco, jogando o "F" e o "PH" no mesmo sacco,
phenomeno que, como pretendeu Caetano, mais se valoriza quando os
phonemas se synthetizam na escripta.

E ja que é para embolar o meio de campo, escolhi como illustração um
soneto bem dialectico, tanto no sentido da prosodia quanto na mixtura de
procedencias. Até 2010!

SONETO SOLETTRADO [375]

Decifre um abecê no abracadabra.
Deduza o delta errado do programma.
A formula se grapha com o gamma.
Viado tem hiato na palavra.

John Kennedy deu bode; o Lampe é cabra.
Mamãe amammentando, o nenê mamma.
Do opiparo quitute o aroma chama.
O russo arreda o rico e a roça lavra.

Um esse se assemelha ao saxophone.
O tu, segundo o verbo, é uma pessoa.
Ve dabliu é rei plebeu, sem quem desthrone.

O xiz parece a cruz, que se abençoa.
Tem cara de forquilha o pissilone.
O ze ziguezagueia, zurze e zoa.

///

NOVEMBRO/2009: "NEM TANTO AO MAR, NEM TANTO A MARTE"

Fallava eu de conciliação dos extremos porque sei como tendemos a ser
radicaes quando defendemos nossas idéas. Eu mesmo fui victima da
forçação de barra quando, para contestar os reformistas que queriam
transformar "acreano" em "acriano", extendi a desinencia "eano" até a
adjectivos que não precisariam leval-a, como "oswaldiano",
"petrarchiano", "bilaquiano" ou "mattosiano". Na verdade, a terminação
adjectiva em "ano" teria que ser precedida, si fosse o caso, da vogal
"E" apenas quando o substantivo terminar em "E" e precedida da vogal "I"
quando o substantivo terminar em outra vogal ou em consoante. Tracta-se
duma regra relativa que, embora às vezes confunda, na practica funcciona
sem extranheza.

Assim, si os substantivos forem Pessoa, Alagoas, Piracicaba, Cuyabá,
Curityba, Cuba, Venezuela, America, Africa, Angola, Roma, Esparta, a
terminação dos adjectivos será simplesmente "ano". No caso de Colombia,
India, Bahia, Australia, Italia, Ukrania, California, Esthonia, Siberia,
Victoria, Bolivia, Acacio, Julio, Gregorio, Diluvio, o "I" que ja faz
parte do nome se reflectirá, obviamente, na terminação "iano". Dahi a
razão de grapharmos "borgiano" si a palavra for allusiva ao sobrenome
Borgia, differentemente de "borgeano", allusivo a Borges.

Si os substantivos forem Borges, Rodrigues, Menezes, Acre, Sade, Gide,
Bocage, Shakespeare, Voltaire, Sartre, Appalaches, Euclides, Camões, a
terminação dos adjectivos será "eano". Inclusive, obviamente, quando o
"E" preceder a vogal final do substantivo, qualquer que seja esta, como
em "craneo" ou "varzea".

Si os substantivos forem Torquemada, Gonzaga, Obama, Sahara, Guevara,
Bandeira, Zaratustra, Caucaso, Machado, Neptuno, Parnaso, Drummond,
Hollywood, Freud, Jung, Reich, Bach, Orwell, Iran, Lacan, Juppiter,
Venus, a terminação dos adjectivos será "iano", na qual o "I" apparece
addicionalmente.

Si os substantivos forem Haiti, Vivaldi, Verdi, Fellini, Pasolini,
Mussolini, Khomeini, Caymmi, Dali, Gaudí, Mogy, a terminação "ano"
apenas se accrescenta.

Si os substantivos forem Itu, Pagu, Peru, Ubu, as vogaes "E" ou "I"
nunca occorrem.

Claro está que a questão nem se colloca quando o adjectivo dispensar
outra vogal antes de "ano", independentemente da lettra final do
substantivo, como em "Alemtejo", "Athletico", "Mexico", "Francisco",
"Luthero", "Pernambuco", "Rheno", "Sergipe", "Moçambique", "Goyaz",
"Texas", "Elizabeth", "Nazareth", etc.

Duvidas sempre nos assaltam, comtudo. Ao repassarmos adjectivos
extraterrenos como "juppiteriano" ou "venusiano", immediatamente nos
occorre o mais commum: "marciano". Si o planeta Marte tem seu nome vindo
do latim nominativo "Mars", alguem poderá achar que a palavra deveria
ser "marsiano", com "S". Si considerarmos que a origem está no genitivo
"Martis", que daria em portuguez "Marte", nossa regra mandaria graphar
"marteano". Donde a forma "marciano", então? Succede que de "Martis"
veiu "Martius", que deu "Marcio" em portuguez, com o "T" que
habitualmente se converte em "C", como em "patientia" dando "paciencia".
Dahi o adjectivo: "marciano", com "C" mesmo.

E para não perder a deixa, faço jus ao vicio poetico e divago um pouco:
si os habitantes do planeta vermelho são, sabidamente, verdes, que cor
teriam os habitantes da Lua, que por signal não são "lunaticos" nem
"lunianos", e sim "selenitas"? Si forem prateados, poderiam ser
scientificamente classificados, em termos substantivos, como
"argyrodermes", que tal? Sendo amarellos, seriam "xanthodermes"; si
brancos, "leucodermes"; si azues, "cyanodermes"; si verdes,
"chlorodermes"; si vermelhos, "erythrodermes"; si dourados,
"chrysodermes"; si pardos, "pheodermes", e assim por deante... Basta
brincar com os radicaes gregos, com os quaes se podem formar quaesquer
palavras, tanto antepondo como pospondo, a exemplo de "gynandro", que
significa "mulher macho", ou de "androgyno", que significa "homem
femea". Qualquer hora vou postar um glossario desses radicaes, me
aguardem. (*)

Voltando à vacca fria, fecho com um soneto que baptizei de
"paulopolitano" por ser allusivo à cidade de São Paulo, assim como
"soteropolitano" allude à cidade de Salvador, ja que "salvador" ou
"protector" em grego é "sotero".

SONETO PAULOPOLITANO [110]

Alguns passos alem do Marco Zero
a cathedral da Sé, quasi acabada,
resume em neogothico a salada
humana e deshumana onde me gero.

No leste nordestino ja fui vero
bambino da rural Villa Hinvernada.
Nasci, porem, na Lapa, que é pegada
à toca dum poeta que é panthero.

Elyseos, Campos, Braz, Bixiga e Mooca,
Belem, Limão, Carrão, Pary, Moema:
Qual minha casa, cova, taba, toca?

Não fosse eu paulistano tão da gemma!
Na rua Lavapés me desembocca
a lingua, que alli lave, goze e gema!

(*) O referido glossario figurou como addendo ao "Tractado de
orthographia lusophona", originalmente disponivel neste blog, e foi
incorporado ao "Diccionario orthographico phonetico/etymologico" de
Glauco Mattoso.

///

OUTUBRO/2009: "ATROPELOS NOS ANTHROPONYMOS"

Si não me falha a memoria, Graciliano Ramos pilheriou, quando assignava
as chronicas posteriormente reunidas no volume "Linhas tortas", que cada
um poderia escrever seu proprio nome como bem entendesse, e um sujeito
chamado Camelo tinha todo o direito de usar dois ou até trez "LLL",
ainda que um camelo tivesse no maximo duas corcovas. Blagues à parte,
tracta-se duma incontestavel prerogativa individual dum cidadão, tanto
que nenhuma reforma conseguiu obrigar ninguem a refazer documentos em
chartorio, chegando os reformadores, quando muito, a recommendar que os
nomes de pessoas mortas fossem phonetizados, como os de Raymundo Correa
e Luiz Delphino, que ficariam "Raimundo Correia" e "Luís Delfino".

Por esse criterio, Vinicius de Moraes ja teria que ser graphado com
accento agudo no segundo "I" e com outro "I" no sobrenome. Chico Buarque
que se prepare para perder um "L" em Hollanda, e outro Buarque para se
revirar na tumba quando, em vez de Christovam, escreverem "Cristóvão".
Horror maior seria Caetano supportar que graphassem sem geminadas seu
maravilhoso nome completo, Caetano Emmanuel Vianna Telles Velloso!

Verdade seja dicta que nem todos fazem questão das lettras no devido
logar, a começar por Caetano, que assigna "Veloso" com um "L" só, sem
fallar na Ritta Lee com um "T" só, na Ignezita Barroso sem o "G", no
Sylvio Sanctos sem o "Y" e o "C", na Heloiza Hellena, no Aloysio
Mercadante ou no proprio Luiz Ignacio Lula da Silva.

Nunca me esqueço daquella phase em que a "Folha de S. Paulo" cahia nas
mãos da geração do Octavinho Frias e, na soffreguidão de reformar o
manual de redacção, a molecada quiz graphar até o nome do Sarney como
"Sarnei"... e fico me perguntando si o actual editor do jornal se
assigna como Octavio ou como "Otávio"...

Na "Encyclopedia de litteratura brasileira" (titulo que obviamente estou
"desreformando" por vingança), organizada originalmente por "Afrânio"
Coutinho, meu proprio pseudonymo apparece com um só "T" em Mattoso, ao
lado de coisas terriveis como "Gregório de Matos" em vez de Gregorio de
Mattos, ou "Tomás Antônio Gonzaga" em vez de Thomaz Antonio Gonzaga. O
peor é que a obra faz isso tambem com os vivos. Um escriptor que se
chamasse Augusto dos Anjos Seraphim Cherubim teria seu verbete entrando
como "Querubim, Augusto dos Anjos Serafim", na lettra "Q", calculem só!
Alceu Amoroso Lima, si vivo fosse, teria o desprazer de ler seu
pseudonymo Tristão de Athayde como "Ataíde", ja pensaram?

Caso algum jornal embarcasse actualmente numa arbitrariedade dessas, me
ponho a imaginar o problema que se crearia para disciplinar, no caderno
de esportes, os singellos nominhos dos jogadores de futebol... Si nem
siquer os technicos conseguem disciplinar aquelles marmanjos balladeiros
e mascarados, que dizer de seus primorosos prenomes, tão bem escolhidos
por seus papaes e por suas mamães (inclusive com um pedacinho do nome da
mamãe e um do papae, typo Magdalennon ou Izabelvis)? Como teriam que
figurar, na legenda das photos que exhibem seus pezões com a sola em
primeiro plano voltada para a camera, durante uma sessão de exercicios,
aquelles craques cujo salario passa da conta e cujo QI não conta? Um
Kaykawan viraria "Caicauã"? Um Moacyrlyson viraria "Moacírlissom"? Um
Keyrsthon viraria "Quêirstom"? E um Damnrleyrryson, como ficaria?

Prefiro conciliar os extremos. Os paes teem o direito de baptizar seus
filhos como quizerem, sem que os grammaticos se intromettam, os
jogadores teem o direito de ser chamados pelo nome de baptismo, sem que
os jornalistas se intromettam, e os escriptores o direito de usar um
pseudonymo sem que ninguem os "corrija", siquer depois de mortos. Para
brincar mais um pouco com este assumpto serio, escolhi trez sonetos:

SONETO PARA O BAPTISMO DOS FILHOS [1808]

No terceiromundismo brasileiro
ninguem se chama Pedro nem José:
a gente se depara, o tempo inteiro,
com nome que vernaculo não é...

Sempre um "son", sempre um "ton", é o que primeiro
a um pae na idéa vem... À mãe até
occorre um "ley" ou "ney" alvissareiro
que ao filho no futuro traga fé...

Pedrilson, Josezilton, Pedriney,
Joseley... Meu nominho? Ja nem sei
mais como ficaria a escripta disso...

Si eu fosse um jogador de futebol,
então, alguma coisa mais de escol
seria: Pedrizélysson, Zezylsson...

SONETO PARA O BAPTISMO DAS FILHAS [1809]

Peor é quando os paes acham bonito
dar nome que de indigena pareça
num filho ou numa filha. Apenas cito
alguns que veem agora na cabeça:

Kauan, Kauê, Tayná, Luan... Que attrito
tal coisa causaria entre a condessa
do imperio e o proprio conde, nesse rito
sagrado, si a palavra fosse avessa?

Naquelle tempo um homem se chamava
Antonio ou Manoel! Até uma escrava
seria Joaquina ou Benedicta...

Agora é ja mania: Si não for
Whitnéa ou Waldisney, local a cor
terá si é Moacyrson ou Pepytha...

SONETO PARA O BAPTISMO DOS BISNETOS [1810]

E quando o sobrenome for um bicho?
Coelho, Leão, Lobo... ainda vae!
Carneiro e até Bezerra são um nicho
de estirpe familiar, de avô e de pae...

Ha casos, todavia, que um capricho
extranho nos parece, e, quando cae
na bocca deste cego um delles, picho
meu muro, e aquella tincta nunca sae...

Formiga, Aranha, Cobra e até Barata
estão na minha lista, e, nessa natta
ainda muitos mais vou ommittindo...

Lacraia, Escorpião, Sapo, Minhoca...
Não tarda, alguem no filho ja colloca
prenome e sobrenome... Não é lindo?

///

SEPTEMBRO/2009: "TOPICOS TUPYNICOS E TOPONYMICOS"

Outro dia, a proposito dos toponymos brasileiros, fallava eu das
variantes orthographicas do nome da cidade de Nictheroy, mais
propriamente Niteroy. Acho que seria opportuno recapitular as olvidadas
regras que disciplinariam as denominações geographicas autochthones. A
questão dos anthroponymos fica para outra occasião.

Me lembro bem de quando fiz lettras vernaculas na USP e, entre as
materias optativas, a gente podia programmar tupy ou toponymia, o que
practicamente dava na mesma, uma vez que a maioria dos nossos toponymos
são tupynismos... ou tupinismos.

Aqui ja começa a confusão, pois poucos entenderiam que graphassemos
"tupy" com "Y" e "tupinismo" com "I", ao mesmo tempo que graphavamos
"dandy" e "dandysmo", por exemplo. Affinal, pelo systema etymologico a
escripta ficava engessada pelos radicaes em todos os cognatos e
derivados, como em "psycho", que dava "psychanalyse", "psyche",
"psychico", "psychismo", "psychotico", "antipsychiatria" ou
"parapsychologia". Por que, então, não "tupynizar", "tupynificar" e
"tupygraphar" systematicamente? Como diria Oswald, "tupy or not tupy,
that's the question"...

O facto é que, tanto nos tupynismos, em particular, quanto, por
extensão, nos indigenismos em geral, os grammaticos e lexicographos
nunca se entenderam, fosse pelo criterio etymologico, fosse pelo
phonetico. Aurelio, por exemplo, registrava "paraty" com "Y" ao lado de
"tupi" com "I", emquanto Aulete ignorava solennemente os brasileirismos.

Vae dahi que, junctando suggestões de varias fontes e auctoridades,
cheguei à minha propria regulamentação. Na verdade, as regras anteriores
à reforma quarentista ja synthetizavam dialecticamente a tradição
escripta de tendencia etymologista e a coherencia logica das
systematizações phoneticistas. O que fiz foi uniformizar as differentes
posições a fim de estabelecer um parametro seguro.

Na practica, tudo gyra em torno dos phonemas consonantaes em "Ç/SS" e
"G/J", alem do vocalico "I/Y". Sabendo-se que os indios não tinham uma
linguagem escripta, alphabeticamente codificada como a dos idiomas
europeus, temos que partir do principio de que qualquer representação
orthographica será necessariamente arbitraria, mas, como parto do
principio de que o systema etymologico preserva ao maximo as formas
fixadas ha mais tempo, obrigo-me a optar pelo que se poderia chamar de
"phoneticismo etymologizante". Assim, teriamos a seguinte padronização:

No caso das palavras que phoneticamente levam "J" antes das vogaes "E"
ou "I", como "Moji", "Potenji", "Seriji", "Tibaji", "jibóia", "jirau",
"pajé", "Bajé" e derivados typo "bajeense" e "pajelança", prefiro
invariavelmente o "G", graphando "Mogy", "Potengy", "Serigy", "Tibagy",
"giboya", "girau", "pagé", "Bagé", "bageense" e "pagelança".

No caso das palavras que phoneticamente levam "Ç" antes de "A", "O" ou
"U", como "açaí", "Paiçandu", "Moçoró", "paçoca", "Paraguaçu" ou
"Piraçununga", prefiro invariavelmente o duplo "SS", graphando "assahy",
"Payssandu", "Mossoró", "passoca", "Paraguassu" e "Pirassununga".

No caso de "I" ou "Y" a questão é ligeiramente mais complexa, como nos
exemplos citados "Tibagy", "giboya", "assahy" e "Payssandu", mas tudo se
resume em reservar o "Y" para as syllabas tonicas e para os diphthongos,
precedido de "H" no caso das tonicas que implicam hiatos. Assim, as
palavras "Curityba", "Itamaraty", "jurity", "piriry", "Biriguy",
"Piauhy", "Carapicuhyba", "Atibaya" ou "Itatiaya" levam apenas um "Y",
da mesma forma que essa lettra occorre tonicamente em "Pery", "Cauby",
"Moacyr", "Jandyra", "curupyra", "sucupyra", "Sepetyba", "Parahyba",
"tupy", "poty" ou "Jaguary" (e diphthongalmente em "Araguaya", "cayapó",
"Cuyabá", "Tamoyo", "Tapuya", "Bocayuva", "aymoré", "Cayru", "guaycuru"
ou "Uruguay"), sem que se reflicta nos compostos quando haja
deslocamento da tonica, como em "tupinambá", "potiguar" ou
"Jaguariahyva", ainda que se mantenha em derivados como "curitybano" ou
"piauhyense". A rigor, não erra quem graphar "tupynambá", logicamente.

Explica-se, portanto, que o "Y" appareça em "Juquityba" mas não em
"jequitibá", bem como haver "H" na tonica "Sapucahy" e não na
diphthongal "Sapucaya", ou ainda a occorrencia de dois "Y" em "Tuyuty".

Sempre occorrerão excepções, naturalmente, como em "Ypiranga", que na
verdade se compõe de "Y+Piranga", ou em "Ivahyporan", composto de
"Ivahy+Poran", ou como nos diphthongos decrescentes em "caissara" e
"caipyra", que eu preferiria graphar "cayssara" e "caypyra". Tambem
excepcional é o caso em que, mesmo tonico, o "Y" não apparece porque se
nasaliza com "M" ou "N", como em "mirim", "curumim", "tupyniquim" ou
"Tocantins". No caso de "Nictheroy" em vez de "Niteroy", a excepção se
justifica, como ja mencionei, pela tradição toponymica e litteraria.

E por fallar em litteratura, alguns exemplos na direcção do equivoco ou
do acerto: em Gonçalves Dias, o poetico "Y-Juca Pirama" exhibe,
correctamente hyphenada, sua origem composta, emquanto "Os Timbyras" às
vezes apparece erroneamente graphado como "Os Tymbiras", inclusive no
tractado de Bilac. Em Alencar, é correcta a ausencia do "Y" em "Iracema"
e a presença em "O Guarany". Ja o romance de Mario de Andrade devia ser
graphado "Macunahyma" e não, na forma ethnographica, "Makunaima".

Paro por aqui, quando me occorre este soneto para illustrar a materia:

SONETO PARA UMA TATTUAGEM ATTRAHENTE [2092]

"Tatuapé", tupy de origem, é
"tatu que 'inda não pode andar de carro",
si formos num moleque botar fé
quando elle, em meio à turma, tira sarro...

Disposto a fazer graça, digo até
que a ver com tattuagem tem... Me agarro
à hypothese: si alguem tattua pé,
tattua mão e braço... E ja me amarro!

Que typo de "tattoo" num pé se faz?
Si for marcar a lancha dum rapaz,
prefere-se uma bocca de mulher...

No pé duma menina, é temptador
um olho que nos olha, cuja cor
reflecte quem os olhos lhe puzer...

///

MAIO/2009: "LETTRA QUE TE QUERO LETTRA"

Nessa bagunça que characteriza a orthographia reformada desde a decada
de 1940, a toponymia brasileira offerece um complicador a mais. Temos
nomes geographicos typicamente portuguezes, como Sancta Catharina, Minas
Geraes e Matto Grosso, convivendo com toponymos tupys, como Parahyba,
Goyaz e Sergipe. Si as reformas fossem applicadas systematicamente,
tanto uns como outros seriam violentados: Mossoró viraria "Moçoró",
Pirassununga viraria "Piraçununga", Jahu viraria "Jaú", Piauhy viraria
"Piauí", Mogy Guassu viraria "Moji Guaçu", Sergipe viraria "Serjipe",
Bagé viraria "Bajé" e Bahia viraria "Baía", victimas das mutilações,
juncto com os catharinenses, mattogrossenses e goyanos. Apenas os
bahianos batteram o pé e se recusaram a ser chamados de filhos da
"Baía", emquanto outros cidadãos brasileiros tiveram que engolir
"Curitiba" em logar de Curityba, "Cuiabá" em logar de Cuyabá, "Vitória"
em logar de Victoria, "Teresina" em logar de Therezina, ou "Belo
Horizonte" em logar de Bello Horizonte.

A cidade de Niteroy poderia, si quizesse, invocar a tradição para
reivindicar a graphia "Nictheroy", a mais usual dentre as varias formas
encontradiças ha cem annos: "Niteroy", "Nicteroy", "Nitheroy",
"Nyteroy", etc. Na historia da litteratura brasileira ha pelo menos dois
poemas com o titulo de "Nictheroy", um do padre Januario da Cunha
Barbosa, outro de Firmino Rodrigues Silva, e é dessa forma que Bilac os
registra em seu "Tractado de versificação". Por seu turno, Julio
Nogueira, no "Manual orthographico brasileiro", registra que Capistrano
de Abreu graphava "Nyteroe", mas resalva que essa graphia tambem seria
erronea.

Pelas regras do systema que adopto, os termos de origem indigena
empregavam o "Y" em dois casos: nas syllabas tonicas (precedido de "H"
nos hiatos) e nos diphthongos, como em "Itatyba", "Carapicuhyba",
"Sapucahy", "Sapucaya", "Itatiaya", "Atibaya", "Ituyutaba" ou "Tuyuty".
Verdade seja dicta que, como toda regra, esta admitte excepções, ante os
exemplos de "Camaragibe", "Cambuquira" ou "Sergipe". Mas o importante,
aqui, é que os encontros consonantaes "CT" (typico do latim, como em
"nocturno") e "TH" (typico do grego, como em "cothurno") seriam,
evidentemente, extranhos ao tupy aportuguezado, no qual a unica forma
correcta para o nome da cidade fluminense é Niteroy. Em todo caso, tudo,
menos "Niterói", como se vê escripto agora.

Occorre que, na orthographia etymologica, aquillo que se crystallizou
pela tradição pode valer mais que o resultado duma analyse scientifica.
Assim, si Bagé conseguiu conservar seu "G" e a Bahia seu "H", por que
não dar a Niteroy o direito de officializar a graphia Nictheroy?

Discussão maior poderia render o proprio nome do paiz, que hoje
escrevemos com "S" e os inglezes com "Z". Mas elles o fazem porque nós
mesmos usavamos "Brazil" no tempo do imperio e na primeira metade do
seculo XX. Conservadores que são, não mudaram a graphia, emquanto nós
ficamos aqui nesta crise de identidade. Ja o caso de Brasilia, que
nasceu escripta com "S", passou assim para os inglezes, que, portanto,
jamais escreverão "Brazilia", nem que, na nossa proxima reforma,
adoptemos o "Z" nesses toponymos. Em tempo: Aulete e outros auctores
registravam tanto "Braz" como "braza" com "Z". Mas, a rigor, apenas em
caso de consoante final se exigiria tal graphia (como em "gaz", "giz",
"mez" e "puz"), donde a obrigatoriedade de grapharmos "Braz" e a
liberdade de optarmos por "Brazil" ou "Brasil", tendo Julio Nogueira
preferido com "S".

Peor, porem, fica a questão dos adjectivos. Até os orgulhosissimos
bahianos se submetteram ao incoherente tractamento de "baianos" quando
da reforma orthographica, da mesma forma como os corinthianos acceitam
ser tractados de "corintianos"... ainda que ninguem concorde com as
graphias "Baía" e "Coríntians"! Deante dessa subtil circumstancia, qual
deve ser a reacção dos acreanos, agora que os reformistas de plantão
scismaram de adoptar a graphia "acrianos" para os filhos do Acre? Sorte
dos sergipanos, que, alem de conservarem seu "G", nunca se denominaram
"sergipeanos": caso fossem submettidos aos rigores reformisticos, teriam
que se considerar "serjipianos"! Ja pensaram?

De minha parte, o systema etymologico estava adoptado desde o primeiro
livro de poesia ("Apocrypho Apocalypse", de 1975), mas acabei fazendo
concessão ao systema phonetico a partir de 1981, quando alguns livros
passaram a sahir por editoras commerciaes, e até o final de 2008
practiquei o phoneticismo para não difficultar a divulgação da obra
poetica. Ultimamente, baptizei de "Serie Mattosiana" a collecção dos
livros de sonetos, o que suscitou a indagação de alguns leitores:
"mattosiana" ou "mattoseana"? Si fosse agora, a partir de 2009,
adjectivos como "sadeano", "camoneano", "bocageano" ou "sartreano"
levariam, de minha penna, "E" em vez de "I", mas não em todos os casos,
e sim quando o "E" ja estivesse presente no substantivo, donde
"petrarchiano", "bilaquiano" e "mattosiano" ao lado de "camoneano",
"bocageano" e "shakespeareano". Não é o caso de "gregoriano" ou de
"victoriano", cujos substantivos ja trazem o "I".

Tudo, emfim, é questão de bom senso e de preservação do "graphosystema",
que, tal como o "ecosystema", necessita de activistas que de facto
practiquem o que theorizam, e não de proselytos que só abbraçam a causa
da bocca para fora. Si encaro o portuguez escripto como encaro a matta
atlantica, não basta manter bem climatizada a minha bibliotheca: tenho
que semear mais livros, a mancheias, como Castro Alves, todos escriptos
na boa, velha e chlorophyllatica orthographia etymologica! Fallei e
disse!

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ABRIL/2009: "VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ ESCREVENDO? COM SEU COMPUTADOR
FALLANTE!"

Ja pensou si você, occupado na digitação, quizesse escrever "viado" ou
"buceta" e o corrector orthographico do seu computador não deixasse,
avisando que o certo seria "veado" e "boceta"? Que faria você?
Submetter-se-ia à censura do computador? Mandal-o-ia à merda? E si
alguem de carne e osso quizesse cagar regra, suppondo ter poder sobre
todos os correctores digitaes do paiz? Eu o mandaria engolir seu
"coerdeiro"! E você, o que acha? Para mim é "coherdeiro", com "H" e sem
hyphen, e estamos conversados, como diria a Aracy de Almeida.

Meu computador fallante não se attreve a cagar regra emquanto digito,
mas fico imaginando a raiva dos meus collegas de penna deante desses
omnipotentes academicos da commissão encarregada de publicar o tal VOLP.
Seria o caso de perguntar: "encarregada" por quem? Eu por acaso votei
para eleger tal commissão? Passei procuração para decidirem como devo
graphar "veado", "boceta" ou "coherdeiro"? Algum de vocês votou ou
passou procuração?

Depois que sahiu na revista "Língua Portuguesa" (cujo titulo devia ser
"Lingua Portugueza") mais um artigo meu contra a actual orthographia,
augmentou a quantidade de mensagens na minha caixa de entrada. Numa
dellas, o leitor me interpella accerca do termo "accordo" para designar
a reforma ora vigente. De facto, nada mais ironico que baptizar de
"accordo" uma norma baixada de forma tão auctoritaria.

Poucos attentaram para o detalhe historico, mas não foi casual que o
"accordo" de 1943 (que substituiu da noite para o dia e de cyma para
baixo o systema etymologico pelo phonetico) tenha sido officializado
durante a dictadura getulista, nem que o decreto de 1971 (que reduziu a
quantidade de accentos mas manteve o systema phonetico) tenha sido
baixado durante a dictadura mais recente, ja sob o AI-5, assignado pelo
mais linhadurista dos generaes de plantão. Tudo isso é symptomatico da
arbitrariedade e da arrogancia com que taes decisões são tomadas, e o
facto de que o actual "accordo" entre em vigor num periodo suppostamente
democratico não o livra do character auctoritario e illegitimo.

Basta observar o que occorre nos paizes mais desenvolvidos e
civilizados: nem os academicos de Oxford ousam profanar a graphia do
idioma inglez, nem os da Academia Franceza o fazem na sua lingua. Só
mesmo nesta colonizada e atrazada communidade lusophona um assumpto
dessa magnitude é monopolizado por um unico Houaiss ou por meia duzia de
Becharas! Quem elles pensam que são para cagar regra sobre um universo
de fallantes e uma parcella de lettrados? Querem ter mais poder que um
monarcha absolutista, mas nem siquer representam a intellectualidade da
qual se julgam oriundos! Vocês não acham petulancia demais?

O mais chato de tudo é que sempre tive pelo Houaiss o maior appreço,
sempre lhe admirei o saber encyclopedico e a paternidade de importantes
diccionarios. Elle não precisava escorregar nesse megalomaniaco impulso
de vaidade, nessa infeliz pretensão de legislar theocraticamente, como
si fosse um ministro do STF, inebriado pela sensação de poder.

Quem decide sobre o uso dum idioma são seus usuarios, e não apenas os
vivos, mas todos aquelles que o fallaram e escreveram ao longo dos
seculos. Nesse contexto, as normas se formam, se consolidam ou se
alteram paulatina e ponctualmente, jamais por decreto de alcance
exhaustivo e effeito immediato. Portanto, orthographia não é coisa que
se reforme como um regimen politico ou tributario. Aliaz, não
conseguimos reformar siquer nossas instituições mais transitorias, sejam
ellas civis ou fiscaes, e esses gattos pingados querem reformar nossa
quinhentista escripta? Que audacia, a desses tyranninhos de fardão, hem?

Dahi por que, sommando-se à minha sympathia pelas raizes grecolatinas,
adopto esta attitude rebelde de repudio à norma vigente. Insisto: nós,
escriptores, somos os legitimos usuarios da lingua escripta, e nós,
poetas, exercemos com auctoridade o direito à licença poetica. Ninguem
mais credenciado que um poeta para deliberar sobre o que seja correcto
em materia de grammatica ou de orthographia. Affinal, os proprios
lexicographos recorrem a nós quando querem abonar as accepções ou
applicações morphologicosyntacticas dos vocabulos que verbetam, não é
mesmo?

Não faço questão que me citem nos futuros diccionarios, mas faço questão
de consultar prioritariamente os diccionarios anteriores às dictaduras
republicanas, dictas "revolucionarias" mas litteralmente reaccionarias.
Prefiro ser, paradoxalmente progressista, adepto da graphia mais
"conservadora" na qual escreveu Machado, aliaz fundador da nossa
academia.

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sábado, 4 de maio de 2013

MARÇO/2009: "O ORPHANATO INGLEZ E O ASYLO PORTUGUEZ"


Outro dia um amigo me criticava pelo quixotismo de defender sozinho a
"velha" orthographia. Respondi que as reacções collectivas começam
assim, pela iniciativa isolada de algum inconformado, ao qual os demais
vão adherindo. E comparei minha attitude ao que acontece na lingua
ingleza. Elles não reformaram a orthographia e não se preoccupam com o
desapparecimento do "PH", mas a universidade de Oxford quer evitar que
certas palavras caiam em desuso e sumam do vocabulario fallado ou
escripto. Para isso foi creado um sitio chamado "Save the Words"
(savethewords.org), que estimula o emprego de palavras em risco de
extincção. Elles rastreiam a rede para detectar vocabulos que, de tão
raros, nem são reconhecidos pelos correctores orthographicos dos
programmas de edição digital. Depois de seleccionadas pelos
lexicographos, as palavras "esquecidas" são colladas no sitio, donde
berram em audio para que os internautas as adoptem, como si fossem
creanças desamparadas. Quem decide adoptar uma dellas tem que se
registrar no sitio e se comprometter a utilizal-a, tanto nas conversas
quanto na correspondencia. O sitio até emitte um certificado de adopção
para cada voluntario.

Ora, por que não crearmos, em portuguez, um sitio que estimule o emprego
da orthographia etymologica? Affinal, si os latinistas cultivam uma
lingua "morta", ou os esperantistas uma lingua "artificial", por que não
reconhecermos que o cultivo duma escripta "archaica" pode ter sua
importancia cultural, que vae muito alem da simples rebeldia individual
dum poeta cego?

Sciente estou de que poucos teem accesso às fontes de referencia
prequarentistas, como um "Diccionario contemporaneo da lingua
portugueza" (1881) de Caldas Aulete, ou um "Manual orthographico
brasileiro" (1921) de Julio Nogueira, e egualmente poucos teem erudição
grecolatina capaz de "reconstituir" a graphia antiga a partir da actual
forma phonetizada. Por isso estou preparando um minimanual, que
intitulei "Decalogo mattosiano", ou "Promptuario practico do systema
etymologico", para synthetizar regras e exemplos, excepções e casos
ommissos. (*) Logo disponibilizarei esse breviario. Por emquanto, vamos
commentar o que está vigorando.

Dos trez cavallos de battalha na nova reforma (trema, accentos e
hyphen), o mais tranquillo é o trema. Concordando ou não, todos sabem
onde elle existia e passam a saber que elle deixa de existir. Poncto
para o systema etymologico, pois antes de 1943 o trema nunca existira.
Typica notação alleman, apparecia somente em adjectivos como
"mülleriano", mas era extranho ao portuguez. Nem por isso alguem iria
pronunciar "linguiça" como "preguiça", nem "tranquillo" como "aquillo".
Bastava o costume para orientar o ouvido e a escripta. Nenhum drama,
portanto, nesta queda do trema, um signal que jamais deveria ter entrado
na lingua.

Ja quanto ao hyphen a porca torce o rabo, e teremos panno para manga.
Antes de analysarmos os innumeros casos particulares, comtudo, importa
resalvar que a nova reforma até que tentou uniformizar, mas acabou
escorregando nos mesmos problemas provocados pela bagunça do systema
phonetico arbitrariamente implantado em 1943, que ja fora remendado em
1971. Na raiz de tudo está a incoherencia de qualquer escripta que se
pretenda phonetica, contrapondo-se à intransigencia de qualquer escripta
que se pretenda etymologica. Vamos destrinchar.

Na briga entre etymologistas e phoneticistas, as consoantes insonoras e
geminadas são o maior pomo da discordia. Palavras como o substantivo
"penna" e o verbo "annullar" dão bom exemplo. Para os etymologistas
(como eu), os dois "NN" de "penna" são fundamentaes para entendermos que
a "pena" com um "N" só é dó ou punição, emquanto a "penna" com dois "NN"
é a antiga canneta. Da mesma forma, "annullar" (tornar nullo) nada tem a
ver com o dedo anular (com um "N" e um "L" só), mas para os
phoneticistas toda lettra dupla tinha que se reduzir a uma, de modo que
as palavras ficassem enxutas e leves. Mesmo sem concordar, eu até
entenderia, si o criterio fosse geral. Succedeu, porem, que os proprios
reformadores não se entendiam: queriam eliminar o "H" de "humidade" mas
não de "humanidade", embora graphassem "deshumanidade" sem "H". Queriam
tirar o "H" de "herva" mas não de "herbivoro". Queriam trocar o "X" de
"dextra" por "S", mas não tiraram o "X" de "extra". Ou reformassem duma
vez, ou deixassem como estava! Ahi veiu o peor: emquanto tiravam lettras
dum lado, doutro accrescentavam lettras onde não havia, como um "S" a
mais em "antiseptico" ou em "asymmetrico". Que adeanta fazer um buraco
para tapar outro? Crearam-se monstrengos como "antissético" e
"minissaia", quando o mais logico seria, aqui sim, usar o hyphen. E a
estupidez não parava por ahi: alguns prefixos exigiam hyphen, como
"auto", mas outros exigiam juxtaposição, como "anti", e tinhamos
absurdos como "auto-retrato" coexistindo com "antinazista". Agora chega
a nova reforma e altera "microondas" para "micro-ondas" e "auto-retrato"
para "autorretrato"! De novo duplicando consoantes que não são duplas!

Ora, a unica finalidade do hyphen seria justamente evitar essa falsa
duplicação de "RR" e "SS", alem de proteger o "H" que não quizeram
supprimir de "anti-horario". Si fossem realmente phoneticistas, deviam
mudar logo para "antiorário", "orário", "umano", "úmido", "erva",
mantendo o hyphen em "mini-saia", "auto-retrato", "anti-sético" e
"a-simétrico". Só assim o raio do tracinho teria alguma utilidade.

Quanto a mim, que faço em taes casos? O systema etymologico não
approxima a escripta da falla, de forma que, dependendo da clareza e do
bom senso, cada composto é unido ou separado: "antiseptico",
"asymmetrico", "autoretracto", "antinazista", "antisocial", "minisaia",
"microondas", "bom senso", "cavallo de battalha", "sacco de gattos"...
Era até melhor ter eu escripto "anarcholitterario" (tudo juncto) ou
"livre pensador" e "franco atirador" (separado) do que com hyphen, como
fiz no primeiro capitulo. O hyphen é, na verdade, um estorvo cujo
emprego devia ser restricto ao minimo exigido pela clareza.

Nós, etymologistas, gostamos de lettras a mais? Sim, mas não inventamos
lettras, não collocamos lettra a mais onde ella nunca existiu. Jamais
escrevo "antisocial" ou "contrasenso" com dois "SS". Si eu fosse
phoneticista, usaria o hyphen exactamente nesses casos, para favorecer a
pronuncia, e prompto. Antes escrever "asymmetrico" que "assimétrico".
Antes "autoretracto" (ou mesmo "auto-retracto") que "autorretrato".

Emquanto a maioria simplesmente segue a nova regra sem questional-a, eu
convido meus selectos leitores a reflectir que não são só os poetas que
teem liberdade para transgredir, mas todos aquelles que pensam no idioma
como um filho adoptivo, e não como um pae auctoritario.

(*) O manual acabou assumindo proporções mais volumosas e foi abbreviado
como appendice a um "Diccionario orthographico phonetico/etymologico"
que elaborei quattro annos depois e que, alternativamente intitulado
"Dicionário ortográfico fonético/etimológico", ja existe em archivo
digital e se espera editado em papel. (Nota de abril/2013)

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FEVEREIRO/2009: "PORTUGUEZ FALLADO OU ESCRIPTO?"


Conversava eu com dois amigos, quando um delles, desattento, commentou
que minha opção pela velha orthographia seria imitação do inglez ou do
francez. Logo esclareci que, até pelo contrario, foi o inglez que seguiu
a graphia latina e "imitou" a nossa matriz. Na verdade, entre as
novilatinas, a coisa ficou equilibrada até os annos 1940, quando o
francez e o portuguez eram etymologicos, emquanto o italiano e o
hespanhol eram phoneticos. Quanto ao inglez, o etymologismo nem é tão
rigoroso quanto no francez: elles escrevem "literature", os francezes
escrevem "littérature", por exemplo. E são varias as differenças em
relação ao systema que adoptavamos no Brasil: elles escrevem "fantasy",
"Ezekiel", "author", emquanto nós escreviamos "phantasia", "Ezechiel" e
"auctor", mais correctamente, aliaz.

Fallando em correcção, reconheço que, entre nós, as proprias
auctoridades intellectuaes escorregavam de vez em quando, como o
grammatico Eduardo Carlos Pereira, o lexicographo Aurelio Buarque de
Hollanda e o poeta Olavo Bilac. Pereira, auctor das consultadissimas
"Grammatica expositiva" e "Grammatica historica" (que foi para a epocha
tão referencial quanto, mais tarde, um Napoleão Mendes de Almeida com
sua "Grammatica methodica", ou quanto um Evanildo Bechara, até mesmo um
Pasquale, actualmente), vivia alertando para não confundirmos o correcto
"auctor" com o erroneo "author", mas escrevia erradamente "eccletico" em
vez do correcto "eclectico". Aurelio, cujo "Pequeno diccionario
brasileiro da lingua portugueza" precedeu o actual e registrava entre
parenthesis a forma antiga dos vocabulos verbetados, consignou "phimose"
com "Y", confundindo a palavra com os cognatos de "phymatose". Bilac, em
seu "Tractado de versificação", escreveu "satira" com "Y", sendo que
apenas "satyro" se escreve assim. Eu mesmo, que me gabo das obsessões,
cochilei e escrevi "Delphino" com "F". Coisas que acontecem nas melhores
familias typographicas...

Nesse poncto do pappo, o outro amigo, ja enthusiasmado com o assumpto,
suggeriu que se creasse uma communidade no Orkut para os adeptos da
velha orthographia, typo "Eu prefiro o PH" ou "Eu adopto o systema
archaico". Deixei por conta delle.

Não sei si terei seguidores, mas hoje sou caso isolado de resistencia a
qualquer orthographia reformada. Comtudo, na decada de 1940, quando a
reforma foi mais ampla, a resistencia era geral. A começar pelos nomes
proprios, cujos proprietarios se sentiam litteralmente desappropriados.
Ruy Barboza e Raymundo Correa ja não podiam protestar contra a alteração
para "Rui Barbosa" e "Raimundo Correia", pois estavam mortos, mas Alceu
Amoroso Lima fez questão de manter seu pseudonymo como Tristão de
Athayde, em vez de actualizal-o para "Ataíde". Os bahianos se recusaram
a mudar o nome do estado para "Baía" e conseguiram mantel-o como Bahia.
Ja os piauhyenses não tiveram tanta influencia politica e não puderam
evitar que o Piauhy virasse "Piauí". Os habitantes de Mogy Guassu
obtiveram uma victoria parcial, ja que evitaram a forma "Moji" mas não
impediram que Guassu virasse "Guaçu". Si eu fosse acreano, jamais
acceitaria graphar "acriano", da mesma forma como um alagoano não ia
gostar de escrever "alaguano". O proprio Antonio Houaiss, mentor da
actual reforma, seria pivô e victima das contradicções philologicas si
parasse para pensar.

Affinal, para que reformar? Na epocha da maior reforma se allegou que
era para facilitar a alphabetização e para seguir o exemplo de outras
linguas novilatinas, como o italiano e o hespanhol, que phonetizaram a
escripta. Allegações furadas, claro: os inglezes e francezes não são
menos alphabetizados porque conservam o "PH" em "philosophy" e
"philosophie", nem os italianos são mais cultos porque escrevem
"omossessuale" em vez de "homosexuale". Ademais, si quizessemos
realmente phonetizar nossa orthographia, teriamos que fazer como os
italianos, e não adoptar uma reforma meia-bocca que escreve
"homossexual" com dois "SS" mas mantendo o "H" mudo. Si fosse para
reformar, que fizessemos uma reforma coherente, escrevendo "ciência" e
"conciência" em vez de "sciencia" e "consciencia", por exemplo, ou
"umano" e "desumano" em vez de "humano" e "deshumano", ou "ábil" e
"inábil" em vez de "habil" e "inhabil".

Houaiss, nesta ultima reforma, allegou que o motivo seria melhorar a
communicação entre paizes lusophonos, especialmente nos tractados
internacionaes. Ora, temos mais o que fazer! Por acaso inglezes e
americanos deixam de se entender só porque um escreve "humour" e
"theatre" e o outro escreve "humor" e "theater"? O peor é que nenhuma
reforma melhora o entendimento ou a pronuncia do proprio nome do
Houaiss, que em Portugal continua sendo António e no Brasil scismaram de
escrever com circumflexo, "Antônio". Na antiga orthographia Antonio não
levava accento, de modo que cada povo pronunciaria o nome conforme sua
cultura, o que é mais logico.

Portanto, o que define o nivel cultural dum paiz ou fixa sua linguagem
escripta não é uma norma artificialmente architectada por academicos, e
sim o uso, o costume, regulado unicamente pela tradição, como no inglez,
no francez ou no portuguez anterior a 1943. Lingua fallada nada tem a
ver, nem precisa ter, com a lingua escripta, mesmo porque nenhuma
phonetização consegue retractar fielmente as differenças dialectaes ou
siquer o sotaque mais commum. Pura perda de tempo querer abolir os "PH",
"TH", "LL" e "TT" de "phosphoro", "mathematica", "Mello" ou "Mattoso",
pois mais se perde em reimpressões, revisões, correcções e actualizações
didacticas que o que se gastaria em ensinar e apprender as regras
tradicionaes. Em tempo: perde-se dum lado (o nosso) e ganham alguns
opportunistas no mercado editorial...

Bem lembrava Pereira que a orthographia phonetica ja tinha sido
practicada na phase mais embryonaria do nosso idioma, mas fora abolida
pelos latinistas do seculo XV justamente porque não reflectia, no espaço
e no tempo, as variações prosodicas da lingua fallada. Portanto, si ja
se restaurou a etymologia tempos atraz, nada impediria que abolissemos a
phonetica novamente, passando a escrever-se "chrysanthemo", "myosotis",
"cyclame", "amaryllis", "orchidea", "camellia" ou "dahlia", como Machado
escreveria o nome dessas flores... Pode ser idealismo, mas os poetas são
teimosos mesmo, como os hespanhoes que, apoz a dictadura franquista,
tiveram coragem de restaurar a monarchia. "¿Hay gobierno? ¡Soy contra!",
dizia o anarchista naufrago ao chegar àquella ilha semideserta. Eu ja
diria: "Ha desaccordo nos accordos orthographicos? Sou contra qualquer
accordo!" E passo ao largo, com ou sem communidade no Orkut.

No proximo capitulo começo a detalhar as taes regras tradicionaes (e as
modificações do mais recente "accordo"), para vermos como nenhuma
reforma lhes melhorou a applicabilidade.

///

JANEIRO/2009: "ORTHOGRAPHIA ACTUAL E ANARCHISMO INTELLECTUAL"


A partir de agora, janeiro de 2009, vou aproveitar a vigencia da reforma
orthographica para mais um acto de rebeldia. Não se tracta propriamente
de desobediencia civil, mas de independencia intellectual. Na verdade,
eu ja practicara o systema etymologico durante annos, na decada de 1970,
emquanto editei o "Jornal Dobrabil", um fanzine anarcholitterario. Mas,
antes de explicar por que adoptei a norma archaica (que aliaz nem era
tão archaica assim, como veremos), quero recapitular um artigo que
escrevi nos annos 1980 para a revista "A-Z" (antiga "Around", da boate
Gallery, poncto badalado de Sampa).
 
O artigo intitulava-se "Sem rei nem rock" e tractava da nova
constituição (1988), que previa um plebiscito para votarmos si a
republica deveria continuar ou si a monarchia deveria ser restaurada.
Naquelle clima de debatte, relatei uma passagem autobiographica para
demonstrar que fui mais careta, na faculdade, que os proprios membros da
TFP (Tradição, Familia e Propriedade, organização direitista da epocha).
Vamos ao trecho da materia que nos interessa aqui:
 
[Não sei se o partido tá funcionando, pois não me filiei. O fato é que,
com ou sem partido, sou monarquista por princípio, assim como os velhos
& filhos sobreviventes do período imperial, mas também por uma espécie
de nostalgia folclórica, uma curtição que já deixou de ser kitsch pra
virar sofisticação intelectual, ou seja, finesse. Quem me vê como um
cara tarado & debochado pode não acreditar que passei a adolescência
toda me portando & vestindo como um verdadeiro TFP. Fui tão conservador
que, quando alguns tefepistas me procuraram na faculdade (em pleno
governo Garrastazu) e me convidaram a entrar pra casa de Dominus
Plinius, eu respondi que toparia com uma condição: a de que cada um dos
emissários escrevesse três palavras numa folha de papel. As palavras
eram "filosofia", "clorofila" e "crisântemo". Eles não eram tão bobinhos
e sacaram que eu os tava testando. Tentaram entrar na minha e escreveram
"philosophia". Mas nas outras duas se embananaram. Não sabiam todas as
letras de "chlorophylla" e "chrysanthemo". Aí foi minha chance de
encerrar o papo: "Vocês não são tão tradicionalistas. Do contrário, além
da volta da monarquia, defenderiam tambem o uso da 'orthographia
etymologica'." E virei as costas. Foi nessa fase excêntrica, de colete &
relógio de bolso, que encasquetei uma idéia ainda mais extravagante: a
de ser recebido pelo príncipe herdeiro da Coroa brasileira. Meus
conhecimentos sobre as instituições imperiais se resumiam aos dados
históricos e ao texto da constituição de 1824, pela qual o regime é
hereditário por primogenitura masculina. Dizia o artigo 117 que a
descendência de D. Pedro I sucederia ao trono "segundo a ordem regular
de primogenitura e representação, preferindo sempre a linha anterior às
posteriores; na mesma linha, o grau mais próximo ao mais remoto; no
mesmo grau, o sexo masculino ao feminino; no mesmo sexo, a pessoa mais
velha à mais moça". Assim, se a princesa Isabel teve três filhos, o mais
velho, Pedro de Alcântara, Príncipe do Grão-Pará, seria o herdeiro. Como
o príncipe já morreu, seu filho Pedro Gastão seria o sucessor. E D.
Pedro Gastão, segundo me disseram, morava em Petrópolis, no palácio
Grão-Pará. Não tive dúvidas. Escrevi uma carta (em ortografia antiga,
naturalmente) onde me declarava monarquista e, na maior cara de pau,
pedia a Sua Alteza que me hospedasse no palácio. Será que eu esperava
resposta? Se não esperava, veio. Foi uma recusa, lógico, mas uma recusa
com aquela classe, aquela elegância aristocrática que só os nascidos em
berço de ouro sabem ter. Escrita de próprio punho num cartão timbrado
com o brasão imperial e ilustrado com uma gravura de 1870 representando
o palácio Isabel (hoje palácio Guanabara, sede do governo do Rio), dizia
a resposta: "Prezado Pedro José Ferreira da Silva (é meu nome plebeu, e
bem plebeu, por sinal, ó desgraça!): Ao voltar de viagem achei no Grão
Pará sua amável carta. Agradeço os termos tão amáveis nela contidos. A
Princesa estando ainda na Europa não me é possível o hospedar agora. Com
meu sincero saudar, Dom Pedro."]
 
A continuação dessa historia não vem ao caso, mas basta aquelle panorama
para imaginarmos como o Brasil se debattia entre velhos e novos valores.
Ser livre pensador (ou franco atirador, no caso do poeta) em tal
scenario não era facil. Os manicheistas nos pressionavam de todo lado:
si você não era de direita, tinha que ser de esquerda; si não era
fascista, tinha que ser marxista; si não era monarchista, tinha que ser
republicano; si não era sambista, tinha que ser rockeiro; si não era
parnasiano, tinha que ser concretista; si não era sonetista, tinha que
ser verbivocovisual. Ora, si ha uma coisa que eu detesto, é egrejinha, é
panellinha. Ninguem compartilha commigo meu glaucoma, minha cegueira,
meu masochismo, meu fetichismo ou minha insomnia, mas querem que eu
compartilhe idéas e ideaes collectivos, indifferentes à diversidade das
individualidades, né? Fodam-se, pensei eu naquella epocha, e ainda penso
assim. Não tenho que seguir chartilha alguma nem prestar contas a
nenhuma "auctoridade intellectual". Só tenho que consultar minha
consciencia e conferir minha trajectoria existencial. Sempre nadei
contra a maré e, hoje em dia, nestes tempos de "posmodernidade", de
"globalização" e de "realidade virtual", nada é mais anticonvencional
que ser antiquado, nem mais anarchico que ser anachronico. Dahi por que
virei sonetista e, agora, adopto de novo a orthographia em que
escreveram Machado e Bilac, Alencar e Delphino.
 
O gancho, porem, desta attitude minha é a actual reforma, contra a qual
até escriptores bemcomportados se posicionam, inconformados. Della
tractarei nos proximos capitulos desta columna. E ja vou avisando ao
editor para não passar meu texto pelo corrector orthographico, do
contrario me fodo todo.
 
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